“Aqui está melhor”, ela disse, com um tom ainda vivo e alegre. “Agora, gostaria de me dizer o que há de errado com seu quarto, para que possamos melhorá-lo?”
O Sr. Kapowski parecia desconfortável, como se não quisesse realmente falar.
“Não é nada de mais. Apenas o travesseiro e as toalhas. E também, talvez o colchão seja firme demais e... hummm, um pouco fino”.
Emily assentiu, agindo como se as palavras dele não estivesse alfinetando seu coração com pontadas de angústia.
“Mas, de verdade, está tudo bem”, Sr. Kapowski acrescentou. “Eu tenho o sono leve”.
“Certo”, Emily disse, percebendo que fazê-lo falar foi pior do que deixá-lo insatisfeito com o quarto. “Bem, o que posso preparar para seu café da manhã?”
“Ovos com bacon, se não for muito incômodo”, disse. “Fritos. E torrada. Com cogumelos. E tomates”.
“Sem problema”, Emily disse, preocupada por não ter todos os ingredientes que ele listou.
Correu até a cozinha, acordando Mogsy e Chuva imediatamente. Os dois cães começaram a latir pelo café da manhã, mas ela ignorou seus pedidos enquanto corria até a geladeira e conferia o seu interior. Ficou aliviada ao ver que tinha bacon, apesar de não ter cogumelos, nem tomates. Pelo menos, havia pão excedente que Karen, da mercearia, havia deixado outro dia, e os ovos ela podia obter, graças a Lola e a Lolly.
Arrependida pelos sapatos que havia escolhido, Emily passou pela porta dos fundos e saiu correndo pela grama úmida até o galinheiro, onde Lola e Lolly estavam caminhando de um lado a outro. Ambas inclinaram a cabeça para o lado ao ouvir os passos que se aproximavam, esperando que ela as abastecesse com milho fresco.
“Ainda não, cocoricós”, ela disse. “O Sr. Kapowski vem primeiro”.
Elas deram bicadas frustradas no chão enquanto Emily corria até o local onde punham os ovos.
“Vocês devem estar brincando”, balbuciou enquanto olhava para dentro dos ninhos, vazios. Baixou os olhos para as galinhas, com as mãos nos quadris. “Vocês escolheram justamente hoje para não pôr ovos!”
Então, ela se lembrou de toda a prática de ovos pochê que havia feito ontem. Deve ter usado pelo menos uns cinco! Jogou as mãos no ar. Por que Daniel me preocupou com a história dos ovos pochê? pensou, frustrada.
Emily entrou novamente na casa, desapontada por não poder oferecer o café da manhã que o Sr. Kapowski queria hoje também, e começou a grelhar o bacon. Seja por causa da ansiedade ou por sua falta de experiência, Emily parecia incapaz de realizar a mais simples tarefa. Derramou café sobre todo o balcão, e depois deixou o bacon na grelha por tempo demais, então, as bordas ficaram duras e torradas. A nova torradeira – que substituiu a que explodiu e arruinou a cozinha – parecia ter instruções muito mais sensíveis, e ela conseguiu queimar a torrada também.
Ao olhar para o que havia produzido, o café da manhã final no prato, Emily não ficou muito satisfeita. Não podia servir aquilo como se fosse uma refeição. Então, foi até a área de serviço e despejou tudo nas vasilhas dos cães. Pelo menos, ao alimentá-los, havia uma coisa a menos a fazer de sua lista de tarefas.
De volta à cozinha, Emily tentou novamente preparar a refeição que o sr. Kapowski havia pedido. Dessa vez, ficou melhor. O bacon não estava muito cozido. A torrada não estava queimada. Ela esperava apenas que ele a perdoasse pelos ingredientes que estavam faltando.
Olhou para o relógo e viu que já haviam se passado quase trinta minutos, e seu coração acelerou.
Ela correu até a sala.
“Aqui está, Sr. Kapowski”, Emily disse, emergindo novamente na sala de jantar com a bandeja de café da manhã. “Desculpe pela demora”.
Ao se aproximar da mesa, percebeu que o homem tinha adormecido. Sem saber se ficava aliviada ou aborrecida, Emily baixou a bandeja e começou a sair em silêncio da sala.
De repente, a cabeça do Sr. Kapowski se endireitou. “Ah”, ele disse, olhando para a bandeja. “Café da manhã. Obrigado”.
“Sinto muito não ter ovos, tomate ou cogumelos hoje”, ela disse.
O Sr. Kapowski pareceu desapontado.
Emily foi até o corredor e respirou fundo. Havia trabalhado intensamente naquela manhã, considerando a quantidade de dinheiro que ganharia por seus esforços. Se quisesse manter a pousada, teria que se tornar um pouco mais eficiente. E precisava de um plano de emergência no caso de Lola e Lolly decidirem passar mais um dia sem pôr ovos.
Bem nesse momento, ele surgiu da sala de jantar. Havia se passado menos de um minuto desde que ela o entregara a comida.
“Está tudo bem?” Emily perguntou. “Precisa de algo?”
Novamente, o Sr. Kapowski pareceu reticente ao falar.
“Humm... a comida está um pouco fria”.
“Ah”, Emily disse, entrando em pânico. “Pronto, deixe-me aquecê-la para você”.
“Na verdade, tudo bem”, o Sr. Kapowski disse. “Preciso ir andando, de todo modo”.
“Certo”, Emily disse, sentindo-se murchar. “Planejou algo legal para hoje?” Ela estava tentando parecer uma dona de pousada ao invés de uma garotinha em pânico, apesar de se sentir muito mais como a última.
“Ah, não, quis dizer que preciso ir para casa”, o Sr. Kapowski corrigiu.
“Quer dizer que está indo embora?” Emily perguntou, surpresa.
Sentiu um arrepio correr pelo seu corpo.
“Mas o senhor fez reserva para três noites”.
O hóspede parecia sem graça.
“Eu, humm, só preciso voltar. Mas vou pagar pelas três noites”.
Ele parecia apressado para sair e até quando Emily sugeriu abater o preço dos dois cafés da manhã que ele não havia comido, insistiu que pagaria a conta completa e iria embora imediatamente. Emily ficou parada na porta e observou-o ir embora em seu carro, sentindo-se um fracasso total.
Não sabia por quanto tempo ficou ali, lamentando o desastre que havia sido seu primeiro hóspede, mas percebeu o toque de seu celular ecoando dentro da casa. Graças à terrível recepção que tinha na velha casa, o único lugar que Emily podia obter sinal era ao lado da porta da frente. Ela tinha uma mesa especial no hall de entrada apenas para seu celular – uma bela antiguidade que havia recuperado de um dos quartos fechados da pousada. Caminhou até o aparelho, preparando-se para saber quem era.
Não havia muitas opções. Sua mãe não havia entrado em contato desde aquela ligação emocionalmente intensa tarde da noite, na qual falaram a verdade sobre a morte de Charlotte e, mais especificamente, sobre o papel de Emily – ou ausência dele – na tragédia. Amy também não havia mais entrado em contato desde sua tentativa improvisada de “resgatar” Emily de sua nova vida, apesar de terem feito as pazes depois. Ben, seu ex, havia ligado várias vezes desde que ela havia ido embora, mas Emily não havia respondido a nenhuma de suas ligações, e agora a frequência delas parecia ter diminuído.
Ela se preparou enquanto olhava para a tela. O nome piscando era uma surpresa. Era Jayne, uma antiga colega de Nova York, de seus tempos de escola. Conhecia Jayne desde que era criança e, ao longo dos anos, haviam desenvolvido o tipo de amizade em que passavam meses sem se falar, mas, no momento em que se encontravam, era como se não tivesse se passado nenhum dia. Jayne provavelmente ficou sabendo por Amy, ou pelo boca-a-boca, sobre a nova vida de Emily, e estava ligando para sondá-la sobre a súbita e abrupta mudança que havia feito.
Emily atendeu a ligação.
“Em?” Jayne disse, com uma voz entrecortada, sem fôlego. “Acabei de esbarrar em Amy enquanto estava correndo. Ela disse que você havia deixado Nova York!”
Emily piscou, sua mente, agora, desacostumada com o estilo apressado de falar que todos os seus amigos nova-iorquinos compartilhavam. A idea de correr enquanto falava ao telefone lhe parecia estranha agora.
“É, na verdade, já faz um tempinho”, ela disse.
“De quanto tempo estamos falando?” Jayne perguntou, seus passos pesados audíveis pelo telefone.