Javier Salazar Calle - Ndura. Filho Da Selva стр 7.

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Durante toda a caminhada encontrei uns pássaros coloridos com peitos vermelhos chamativos e o resto do corpo esverdeado6. Revoava um bando de uns doze ou quinze entre os galhos das árvores com incrível agilidade. Quando fiz um algum ruído, desapareceram de minha vista em um instante. Somente esses belos animais me tiraram por um momento da sensação esmagadora de solidão com que a selva me golpeava implacavelmente: um mundo opressor, hostil, impiedoso, na sombra permanente de que a agonia, o cansaço e o sufoco não eram mais que companheiros habituais da viagem.

O caminho era difícil. Constantemente tinha que dar voltas ou saltar obstáculos. Às vezes havia pequenas clareiras, mas as circundava com medo de ficar muito visível. Suava sem parar e tinha muita sede, mas não queria tomar outra lata pois só me restavam três. Devia estar fazendo uns 25°C com altíssima umidade, o que fazia com que a angústia e o calor aumentassem. Durante um tempo tirei a camisa, mas tantos mosquitos me picaram que tive que vesti-la novamente. Em alguns momentos o pequeno bosque ficava tão espesso que tinha que abrir caminho com uma vara que havia catado e que fazia as vezes de facão. Nesses casos, praticamente não avançava, já que com a vara o máximo que conseguia era afastar os galhos do caminho enquanto passava, e não cortá-los. Além disso, tinha a parte baixa das pernas e os antebraços cheios de feridas produzidas pelo roçar contra as plantas naqueles lugares onde a roupa não me cobria. O rosto também me ardia em diversas partes, sinal de que também o tinha cortado.

Às vezes o chão estava cheio de ramos ou troncos derrubados, outras vezes o solo era macio, coberto de folhas caídas e eu tinha que andar com cuidado para não torcer um tornozelo em algum buraco ou deslizamento, porque isso seria fatal. Em algumas zonas, as copas das árvores se juntavam tanto que impediam a passagem da luz, criando ambientes de luz e sombras certamente desalentadores; ou formavam vários planos de luz de matizes distintas de acordo com as alturas. Nessas partes eu passava assustado porque tinha a impressão de me ver constantemente atacado por fantasmas, que na realidade eram os galhos mais altos das árvores movendo-se ao som do vento que devia haver no trecho verde da selva e que, de passagem, fazia com que produzissem um uivo assustador que me atormentava por todos os lados. Várias vezes a selva se espessava tanto que era absolutamente impraticável e era preciso dar grandes voltas para seguir avançando. Nunca imaginei que fossem possíveis tantas plantas diferentes juntas. Já não via o romantismo em andar pela selva como os exploradores, aliás, desejava sair o quanto antes deste lugar. Além do mais, como geralmente andava fazendo muito barulho, tinha o coração apertado, pensando que se estivessem me seguindo seria muito fácil me localizar.

Mesmo havendo na noite um ruído incessante por todos os lados, não era o mesmo ruído, mas também se ouvia o zumbido de insetos, cantos estranhos de pássaros na copa das árvores e alguns gritos que supunha fossem de macacos ou algo assim. Ao menos não se ouviam os rugidos inquietantes, que deviam ter sido de algum caçador noturno, ou assim eu queria acreditar. Não via muitos animais, mas podia sentir todos eles.

Olhei a hora no meu relógio. Eram dez da manhã. Estava andando há uma hora e não conseguia mais. O joelho já começava a enviar sinais de aviso, notava como estava um pouco inflamado. Várias vezes os ligamentos, ou algo que o valha, haviam se deslocado e eu tinha que colocá-los com a mão de novo no lugar, massageando suave porém firmemente. Sentei-me no chão para descansar um pouco, apoiado em um tronco de uma árvore altíssima e esfreguei o joelho com as mãos. O calor me forneceu um certo alívio. Estava em uma zona bastante clara. Quando passei um tempo sentado, vi em um galho de árvore em frente a mim um pássaro7 parecido com um papagaio de plumagem azulada fosca, cuja única nota de cor era o vermelho de seu pescoço, com uma aréola branca ao redor dos olhos, o bico negro e que emitia chiados quase humanos. Girava a cabeça em praticamente todas as direções sem mover o resto do corpo, me fazendo lembrar a menina de O Exorcista. Aproximou-se bamboleante de um fruto da árvore e começou a bicá-lo. O fruto era de cor avermelhada-alaranjada, do tamanho de uma mão e com forma semelhante à abóbora.

 Claro que você sabe onde está disse para mim mesmo, claro que sim. Fiquei descansando quase meia hora e depois tornei a caminhar. Cada vez que contornava uma clareira e tinha que retomar a direção supostamente correta estava mais convencido de que podia estar dando voltas durante anos sem me dar conta. Tudo me parecia igual e o sol já não me servia de muita ajuda. Olhava a que altura se encontrava, comprovava com a hora do relógio e chegava à conclusão de não ter a menor ideia do que estava fazendo. Segui o mesmo ritmo toda a manhã; andava uma hora e descansava um pouco. Nos momentos de descanso lia o livro de frases em suaíli ou o de viagens para entreter a mente com algo, pelo menos serviria para poder me comunicar com alguém em um encontro hipotético. Cada vez me custava mais para me levantar e continuar, o joelho me fazia mancar e por volta das duas da tarde caí, rendido.

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