Luke Torres, alfa de um pequeno clã de gatos, era o atual proprietário da Esmeralda Escarlate. Todo mundo sabia disso. Sem pesquisa, Mel não sabia muito mais. Obviamente, ele poderia aguentar qualquer coisa em uma luta, e sua segurança tinha que ser de alto nível. Mas ela poderia vencê-lo.
Embora não fosse. Essa marca tinha uma sentença de morte anexada.
— Você nem quer saber o preço? — Tina ergueu uma sobrancelha. Com um flash de suas mãos, ela balançou um diamante puro suspenso em um pendente de platina. — Pelo seu trabalho.
Inconscientemente, Mel estendeu a mão para pegá-lo, com o coração batendo forte. Mas Tina o arrebatou novamente.
— Era da Ava? — Mel perguntou. O ódio borbulhava em sua garganta e ela podia sentir suas garras rasgando sob sua pele, prontas para aparecer no momento certo.
Tina sorriu.
— Sim. Digno de Scry.
Aceitar o emprego seria suicídio. Ela se mataria, e provavelmente a sua equipe.
— Qual é o cronograma? — Só estava apenas obtendo os fatos, sem obrigação.
— Três semanas.
Suicídio duplo. Não teria tempo para se preparar antes.
— Me deixe segurar a joia por um minuto.
Tina a jogou no ar e Mel a pegou facilmente. Era um diamante longo e fino, incrustado em platina que se torcia no topo. A corrente era longa o suficiente para ser colocada entre os seios de uma mulher e a gema era quase transparente. Mel enrolou a mão em torno dele. Podia imaginar Ava usando, com uma gota de sangue agarrada à ponta.
O diamante cedeu um pouco de sua resistência. Mel o soltou e o viu voltar para Tina, que disse:
— Diga a Krista que mandei um oi. — Ela sorriu e desapareceu, sem esperar que Mel confirmasse que aceitaria o trabalho.
As duas sabiam que ela iria, no minuto em que tocou a pedra.
Havia maneiras piores de morrer.
2
Uma semana depois
Eagle Creek, no Colorado, tinha dois motéis sujos e um restaurante onde Mel se sentia segura para comer. Não era com a clientela que estava preocupada – era a comida. E a ladra era conhecida por comer suas matanças quando corria como um gato. Mas uma mulher em pele humana deveria ter alguns padrões. Krista e Bob já estavam na mesa. Era a que ficava no canto mais distante, do lado oposto do bar e do banheiro.
O Eagle Creek Bar and Grille – o E no fim do Grille tornava o lugar elegante, é claro – era pequeno. Tinha umas vinte mesas e um bar robusto, com uma dúzia de banquetas. Poderia acomodar bem os residentes da cidade, mas os campistas que aparecessem aqui, a caminho para as montanhas, provavelmente não veriam o encanto. Mel também não via, mas era melhor do que miojo cozido no micro-ondas do posto de gasolina.
Às sete da noite de terça-feira, o lugar estava lotado. Todas as mesas, exceto uma, estavam ocupadas e as garçonetes se agitavam, servindo bebidas e comidas. Todas trabalhavam ali há algum tempo e muitos dos clientes eram regulares. Em uma cidade desse tamanho, só podiam ser.
O homem rude atrás do bar era um metamorfo, provavelmente um gato. E se Mel tivesse que adivinhar, a família de quatro pessoas que estava na mesa mais próxima da janela também era. Mas as duas crianças estavam em pré-transformação. Quase nenhum metamorfo era atingido pela mudança até a adolescência. Mas os pais não eram companheiros. Não se os olhos do pai colados nos seus seios fossem alguma indicação.
Todo mundo era humano. Mel podia dizer só de olhar. Com o perfume que usava, era impossível distinguir pelo cheiro. Uma desvantagem, mas valia a pena já que tornaria difícil para o bando aqui dizer que ela também era uma metamorfa.
A caixa registradora ficava na frente, o cofre provavelmente nos fundos, preso ao chão, se fossem espertos. Poderia tirar dali uns mil dólares em minutos, mas não valia a pena. Não quando ficariam na cidade por semanas e tinham muito dinheiro para gastar.
Viu Krista bufar impaciente, cruzando os braços. A mulher personificava a palavra duende. Com pouco mais de um metro e meio de altura, cabelo castanho curto e espetado e a pele que praticamente brilhava como bronze, parecia uma espécie de ninfa punk da floresta. E sabendo exatamente a força do seu soco, Mel jamais diria isso a ela.
Bob, por outro lado, era... Bob. Os dois trabalharam juntos algumas vezes antes de ela decidir trabalhar por conta própria, e ele foi o primeiro em quem pensou quando precisou de uma equipe. Mas se alguém lhe pedisse para descrevê-lo, mesmo enquanto estava olhando diretamente para ele, não poderia. Ele era um homem, com cabelos castanhos ou pretos, talvez loiros, e olhos... os olhos estavam onde deviam estar, junto com o nariz e a boca. Achava que a pele dele era escura, mas não conseguia descrever o tom. Só podia ser um feitiço de percepção, mas nunca sentiu aquela pontada de magia que qualquer bruxa normal emitia. Mas no fim das contas, sempre soube que ele era Bob e que estava lá para apoiá-la, o que, em sua opinião, era o suficiente.
Se sentou na cabine em frente a seus parceiros. Com um aceno de cabeça, Krista ativou uma proteção de desvio de som. Isso distorceria tudo o que dissessem para que ninguém ao seu redor pudesse entender o conteúdo da conversa, mas as pessoas ainda ouviriam o murmúrio de suas vozes. Ninguém jamais questionou isso e a magia era tão sutil que nem mesmo Mel, com seus sentidos altamente sintonizados, conseguia desativá-la.
— Por que nos chamou? —Krista perguntou. — Achei que não quisesse mais fazer trabalhos em equipe. — Havia um tom rude em sua voz, e Mel sabia que era justificado.
— A Tina me ofereceu o trabalho. — Krista ergueu as sobrancelhas ao mesmo tempo em que seus lábios se curvaram, então Mel continuou. — E não tenho como fazer isso sozinha de jeito nenhum. Não confio em mais ninguém, além de vocês dois, para me ajudar a fazer isso.
— A Esmeralda Escarlate? — Bob perguntou, sua voz mais uniforme do que nunca. — Você acha que quero morrer, Kitty?
Mel apertou a mão com o apelido. Ele devia estar bem chateado mesmo.
— Sim. E como pagamento, vocês podem escolher qualquer item da minha coleção que desejarem. Um para cada. — Dividiria seu estoque pela metade e daria tudo para tentar acertar Ava. Mas não precisava chegar a esse ponto.
— E você tem que nos trazer ao território transmorfo para fazer a oferta? — Krista não parecia satisfeita. — Nós dois provavelmente quebramos três tratados só por virmos até aqui, mais ainda por estarmos sentados em um bar que fica há 20km do castelo do Rei Gato! — Se não fosse pela necessidade de discrição, a mulher mais jovem teria batido o punho contra a mesa. — Isso é manipulação, Mellie, não venha com essa para cima de mim. Se me quer para um trabalho, é só pedir.
Bob não disse nada, mas acenou com a cabeça em concordância.
Mel parou por um momento e tentou tirar a tensão de seus ombros.
— Vocês vão me ajudar a roubar a Esmeralda Escarlate? Não posso fazer isso sem vocês. — Nem doeu dizer isso, não para Bob, nem para Krista. Foi uma surpresa.
Seus parceiros compartilharam um sorriso malicioso.
— E aquele diamante tão grande quanto o punho do Bob?
Mel sabia exatamente do que ela estava falando. Levou seis meses de planejamento para consegui-lo.
— É seu. — Ela olhou para Bob.
Ele deu de ombros.
— Tenho certeza de que vou pensar em algo. — Ele iria, sempre pensava.
Ela se inclinou para frente, com os cotovelos sobre a mesa. Quase podia ouvir a voz de sua mãe gritando para retirá-los.
— Vai ser complicado. Não há registro de plantas, nem detalhes do sistema de segurança. E eles são metamorfos, o que significa que são cerca de vinte vezes mais difíceis de roubar do que qualquer outra pessoa, exceto talvez por um complexo protegido pela irmandade.
Krista se irritou com a avaliação.
— Tente roubar de uma irmandade sem alguém para quebrar as proteções.