Thor ficou parado ali, em estado de choque, olhando para trás enquanto Kendrick, Kolk, Brom e os outros desmontavam e caminhavam lentamente em direção a Thor. Eles estavam acompanhados por dezenas de soldados do Exército Prata, todos grandes guerreiros do Exército do Rei. Eles viram que Thor e os outros estavam ali sozinhos, vitoriosos, no campo de batalha sangrento, repleto de cadáveres de centenas de McClouds. Ele podia ver os seus olhares reverentes, cheios de respeito, de admiração. Ele podia ver isso em seus olhos. Era o que ele tinha desejado toda a sua vida.
Ele era um herói.
CAPÍTULO NOVE
Erec galopava em seu cavalo, correndo pela via do Sul, avançando mais rápido do que nunca, fazendo o que podia para evitar os buracos da estrada na escuridão da noite. Ele não tinha parado de cavalgar desde que tinha sido informado do sequestro de Alistair, informado que ela havia sido vendida como escrava e levada para Baluster. Ele não conseguia parar de repreender a si mesmo. Ele tinha sido estúpido e ingênuo ao acreditar no estalajadeiro e supor que ele manteria sua palavra, que ele respeitaria sua parte do acordo e liberaria Alistair, depois que ele vencesse o torneio. A palavra de Erec era sua honra e ele considerava que a palavra dos outros era sagrada também. Havia sido um erro estúpido e Alistair tinha pagado um preço caro por isso.
O coração de Erec estava partido ao pensar nela. Ele esporou o cavalo com mais força. Pensar que uma bela e requintada senhora, primeiro teve de sofrer a indignidade de trabalhar para aquele estalajadeiro, agora havia sido vendida como escrava e ainda por cima, como escrava sexual. Essa ideia o enfurecia, ele não podia deixar de sentir que de alguma forma, ele era responsável: se ele nunca tivesse aparecido em sua vida, se nunca tivesse se oferecido para levá-la embora, talvez, o estalajadeiro nunca tivesse considerado a possibilidade vendê-la.
Erec avançava noite adentro, o som dos cascos e da respiração de seu cavalo permanecia enchendo seus ouvidos. O cavalo estava mais do que exausto e Erec temia que ele se derrubasse e o atirasse no chão. Depois do torneio, Erec tinha ido diretamente até o dono da pensão, ele não tinha parado para descansar e estava tão cansado, estava esgotado. Ele sentia que simplesmente poderia despencar e cair de seu cavalo a qualquer momento. Mas ele forçou seus olhos a permanecerem abertos, forçou-se a ficar acordado, enquanto cavalgava sob os últimos vestígios da lua cheia, indo sempre para o Sul, para Baluster.
Erec tinha ouvido histórias de Baluster durante toda sua vida, embora fosse um lugar no qual ele nunca tinha estado. Diziam que o lugar era famoso por ser um centro de jogos de azar, de venda e consumo de ópio, sexo e de todos os vícios imagináveis no reino. Era o lugar para onde iam todos os insatisfeitos procedentes de todas as partes do Anel, para explorar todo o tipo de diversão sinistra conhecida pelo homem. Aquele lugar era o oposto da natureza de Erec. Ele nunca apostava e raramente bebia, preferindo passar seu tempo livre desenvolvendo e treinando suas habilidades. Ele não conseguia entender o tipo de pessoas que abraçavam a preguiça e a folia, tal como os frequentadores de Baluster faziam. Ir ali não augurava nada de bom para ele. Nada de bom podia provir dali. Pensar que Alistair se encontrava em um lugar assim fez o seu coração gelar. Ele sabia que tinha de salvá-la rapidamente e levá-la para longe, para bem longe dali, antes que qualquer dano fosse feito.
Quando a lua surgiu no céu e a estrada se alargou e ficou mais transitada, Erec pôde vislumbrar a cidade: o infindável número de tochas que iluminavam suas muralhas fazia com que ela parecesse uma fogueira no meio da noite. Erec não ficou surpreso, já que diziam que os habitantes da cidade costumavam ficar despertos até altas horas da noite.
Erec cavalgou mais rapidamente e se aproximou da cidade. Finalmente, ele cavalgou sobre uma pequena ponte de madeira, iluminada por tochas colocadas em cada lado dela, um vigia sonolento cochilava em seu posto, ele deu um pulo quando Erec passou por ele em disparada. O guarda gritou atrás dele: “EI!”
Mas Erec nem sequer diminuiu a marcha. Se o homem tivesse a coragem de persegui-lo, e Erec duvidava que ele se atrevesse a isso, então Erec se asseguraria de que isso fosse a última coisa que o guarda faria.
Erec avançou pela grande e ampla entrada da cidade, a qual estava construída em torno de uma praça, cercada por muros de pedra antigos e baixos. Ele entrou na cidade e prosseguiu por suas ruas estreitas tão brilhantes, todas com suas tochas alinhadas. Os edifícios haviam sido construídos bem juntos uns dos outros, dando à cidade uma sensação de pouco espaço, de claustrofobia. As ruas estavam absolutamente lotadas, quase todas as pessoas, pareciam estar bêbadas, elas cambaleavam de um lado para outro, gritavam e berravam, empurrando umas a outras. Tudo era como uma grande festa. Praticamente, cada estabelecimento era uma taverna ou salão de jogos.
Erec sabia que aquele era o lugar certo. Ele podia sentir a presença de Alistair ali, em algum lugar. Ele engoliu em seco, esperando que não fosse tarde demais.
Ele cavalgou para o que parecia ser particularmente uma grande taverna, no centro da cidade. Uma multidão de pessoas estava aglomerada do lado de fora e Erec achou que aquele seria um bom lugar para começar.
Erec desmontou do cavalo e correu para dentro, acotovelando a multidão de pessoas agitadas pela bebida ao abrir seu caminho até o estalajadeiro. O dono do lugar estava na parte de trás, no centro da sala, anotando o nome das pessoas e tomando suas moedas antes de conduzi-las até os quartos. Era um sujeito de aparência suja, com um sorriso falso, ele suava e esfregava as mãos enquanto contava suas moedas. Ele olhou para Erec com um sorriso artificial no rosto.
“Deseja um quarto, senhor?” Ele perguntou. “Ou é uma mulher o que deseja?”
Erec balançou a cabeça e chegou perto do homem, querendo ser ouvido em meio ao burburinho.
“Estou procurando por um mercador.” Erec disse. “Um mercador de escravos. Ele cavalgou até aqui desde Savária, há um ou dois dias atrás. Ele trouxe uma carga preciosa. Carga humana.”
O homem lambeu seus lábios.
“O que você procura é uma informação valiosa.” Disse o homem. “Eu posso prover essa informação, tão facilmente como eu posso fornecer um quarto.”
O homem esfregou as mãos e estendeu a palma da mão. Ele olhou para Erec e sorriu, o suor brotava sobre o seu lábio superior.
Erec estava repugnado por aquele homem, mas ele desejava obter informações e não queria perder tempo. Então, ele enfiou a mão no bolso, tirou uma grande moeda de ouro dali e colocou-a na mão do homem.
O homem arregalou os olhos ao examinar a moeda.
“Ouro do Rei.” Ele observou impressionado.
Ele olhou para Erec de cima a baixo, com um olhar de respeito e admiração.
“Então você cavalgou todo o caminho da Corte do Rei?” Ele perguntou.
“Já basta.” Erec disse. “Sou eu quem faz as perguntas aqui. Eu já lhe paguei. Agora me diga: Onde está o mercador?”
O homem lambeu os lábios várias vezes e então se debruçou, chegando mais perto.
“O homem que você procura é Erbot. Ele vem por aqui uma vez por semana com um novo lote de prostitutas. Ele as leiloa a quem der o melhor lance. É provável que você o encontre no seu antro. Siga esta rua até o fim, o estabelecimento dele fica lá. Mas se a menina que você procura tem algum valor, ela provavelmente já se foi. As prostitutas não duram muito tempo por lá.”
Erec virou-se para ir embora, quando sentiu uma mão quente e úmida agarrar seu pulso. Ele virou-se surpreso ao ver o estalajadeiro agarrando-o.