“O que é que quer, Sweeney?” Perguntou Gilmer, parecendo mais rígido do que no dia anterior quando se dirigira ao grupo.
Riley olhou para os estagiários que a fixavam em silêncio com expressões acusatórias.
Então ela disse a Gilmer, “Não vou roubar o seu tempo. Só preciso de lhe entregar isto.”
Entregou-lhe o papel por si escrito.
Gilmer colocou os óculos de leitura.
“O que é isto?” Perguntou ele.
Riley abriu a boca para dizer…
“É a minha carta de demissão do programa.”
Mas em vez disso, saíram outras palavras da sua boca…
“Eu, Riley Sweeney, juro solenemente que apoiarei e defenderei a Constituição dos Estados Unidos…”
Para sua surpresa, apercebeu-se…
Estou a recitar o juramento do FBI.
E não conseguia parar.
“… que serei leal…”
Gilmer apontou para o papel e perguntou novamente…
“O que é isto?”
Riley queria explicar de que se tratava, mas as palavras do juramento continuavam a jorrar…
“… assumo esta responsabilidade de livre vontade, sem qualquer reserva mental ou propósito de evasão…”
O rosto de Gilmer estava a transformar-se noutro rosto.
Era Jake Crivaro e parecia zangado. Agitou o papel à frente do seu rosto.
“O que é isto?” Perguntou.
Riley ficou surpreendida por ver que nada lá estava escrito afinal.
Ouviu todos os outros estagiários a murmurarem audivelmente, a reproduzirem o mesmo juramento mas numa mistura confusa de vozes.
Entretanto, chegava ao fim do juramento…
“… Cumprirei com zelo e fidelidade os deveres do cargo que assumirei. Que Deus me ajude.”
Crivaro agora parecia ainda mais aborrecido.
“Que raio é isto?” Perguntou ele, apontando para o papel vazio.
Riley tentou explicar-lhe, mas as palavras não saíam.
Riley abriu os olhos quando ouviu um som incomodativo.
Estava deitada na cama ao lado de Ryan.
Foi um sonho, Compreendeu.
Mas aquele sonho tinha um significado. Na verdade, significava tudo. Ela fizera um juramento e não o podia trair. Ela não se podia demitir do programa. Não era um problema legal. Era pessoal. Era uma questão de princípio.
Mas e se for expulsa?
O que faço então?
Entretanto, perguntou-se que som seria aquele que não parava de retinir nos seus ouvidos?
Ainda meio a dormir, Ryan disse…
“Atende o raio do teu telefone, Riley.”
Então Riley lembrou-se do telemóvel que lhe fora dado no dia anterior no edifício do FBI. Tateou na mesa de cabeceira até o encontrar, depois levantou-se da cama, saiu do quarto e fechou a porta atrás de si.
Demorou um momento para perceber qual o botão que deveria pressionar para atender a chamada. Quando finalmente conseguiu, ouviu uma voz familiar.
“Sweeney? Acordei-a?”
Era o Agente Crivaro, soando nada aigável.
“Não, é claro que não,” Disse Riley.
“Mentirosa. São cinco da manhã.”
Riley suspirou profundamente. Apercebeu-se que estava mal-disposta.
Crivaro disse, “Quanto tempo leva a acordar e vestir-se?”
Riley pensou por um momento, depois disse, “Hmm, acho que quinze minutos.”
“Estou aí daqui a dez minutos. Encontramo-nos fora do seu prédio.”
Crivaro terminou a chamada sem dizer mais nada.
O que é que ele quer? Interrogou-se Riley.
Vem cá para me despedir pessoalmente?
De repente, sentiu uma náusea apoderar-se de si. Sabia que era um enjoo matinal – o pior que experimentara até ali.
Soltou um grunhido e pensou…
Era mesmo disto que precisava agora.
E correu para a casa de banho.
CAPÍTULO SEIS
Quando Jake Crivaro parou em frente ao prédio de Riley, ela já estava à sua espera. Jake notou que ela estava bastante pálida ao entrar no carro.
“Não se sente bem?” Perguntou.
“Estou bem,” Disse Riley.
Não parece nada bem, Pensou Jake.
Jake pensou que fosse a consequência de alguma festa da noite anterior. Aqueles jovens estagiários manifestavam alguma tendência para aquele tipo de atividade. Ou talvez tivesse bebido demais em casa. Não havia dúvidas de que parecia desencorajada quando a deixara em casa no dia anterior – e não admirava, depois da descasca que ele lhe dera. Talvez tivesse tentado afogar as mágoas.
Jake esperava que a sua protegida não estivesse demasiado ressacada para reagir.
Assim que se afastaram do prédio, Riley perguntou…
“Para onde vamos?”
Jake hesitou por um instante.
Depois disse, “Ouça, hoje vamos começar do zero.”
Riley olhou para ele com uma expressão de vaga surpresa.
Ele prosseguiu, “A verdade é que o que fez ontem – bem, não foi um disparate absoluto. Encontrámos o dinheiro da droga dos irmãos Madison. E aquele telefone descartável revelou-se muito útil. Tinha alguns números importantes que tornaram possível a polícia abordar alguns membros do gang – incluindo Malik Madison, o irmão que ainda estava à solta. Foram estúpidos em comprar um telefone pré-pago e não se livrarem dele depois de o utilizarem. Mas calculo que não estivessem à espera que alguém o encontrasse.”
Jake olhou para Riley e acrescentou, “Estavam enganados.”
Riley continuou a olhar para ele como se não compreendesse o que ele estava a dizer.
Jake resistiu ao impulso de dizer…
“Peço desculpa por ter sido tão rígido.”
Em vez disso disse, “Mas tem que seguir as instruções. E tem que respeitar os procedimentos.”
“Eu compreendo,” Disse Riley. “Obrigada por me dar uma segunda oportunidade.”
Jake grunhiu algumas palavras impercetíveis. Sabia que não podia encorajar em demasia a miúda.
Mas sentia-se mal pela forma como a tratara no dia anterior.
Estou a exagerar, Pensou.
Ele aborrecera alguns colegas de Quantico ao abrir as portas para Riley entrar no programa. Um agente em particular, Toby Wolsky, queria que o sobrinho Jordan entrasse para o programa naquele verão, mas Jake encaixara Riley em vez dele. Empenhara as suas consideráveis credenciais para o conseguir e pedira alguns favores que lhe deviam.
Jake não tinha Wolsky em grande consideração enquanto agente e não tinha qualquer razão para pensar que o sobrinho tivesse potencial. Mas Wolsky tinha amigos em Quantico que agora estavam insatisfeitos com Jake.
De certa forma, Jake compreendia porquê.
Tanto quanto sabiam, Riley era apenas uma licenciada e psicologia que nunca pensara em integrar o FBI.
E a verdade era que Jake também não sabia muito mais a seu respeito – exceto que tinha visto os seus instintos em ação. Lembrava-se nitidamente de como Riley entrara tão facilmente nos pensamentos do assassino em Lanton apenas co uma pequena ajuda sua. À parte ele próprio, Jake raramente encontrara alguém com aquele tipo de instinto – perceções que poucos agentes sequer compreendiam.
É claro que ele não podia descartar a possibilidade de que o que ela fizera em Lanton fosse pouco mais do que um acaso.
Talvez naquele dia conseguisse ter uma ideia mais aproximada daquilo de que ela era capaz.
Riley perguntou novamente…
“Para onde vamos?”
“Para uma cena de crime,” Disse Jake.
Não lhe queria dizer mais nada até lá chegarem.
Queria observar como é que ela reagia a uma situação bastante bizarra.
E pelo que ouvira, esta cena de crime era do mais bizarro que podia haver. Fora chamado há pouco e ainda lhe custava acreditar no que lhe tinha sido relatado.
Vamos ver o que há para ver.
*
Riley começava a sentir-se melhor.
Ainda assim, gostava que ele lhe tivesse dito de que se tratava.
Uma cena de crime, Dissera ele.
Isso era muito mais do que desejava para o programa de verão – quanto mais logo no segundo dia. O dia anterior já tinha sido suficientemente inesperado.
Não sabia muito bem como reagir.
Mas tinha a certeza de que a ideia não agradaria a Ryan.
Ela apercebeu-se que ainda não tinha dito a Ryan que estava a observar Jake Crivaro. Ryan tabé não gostaria disso porque desconfiara de Crivaro desde o início, sobretudo pela forma como ajudara Riley a entrar na mente do assassino.