Meus pais me venderam para ele quando eu era pequena. Eu estava me encrencando por iniciar incêndios, e viram uma oportunidade de ganhar algumas moedas e se livrar de um problema potencial.
As palavras pesaram na língua, palavras que passearam pela cabeça dela por tanto tempo que pronunciá-las em voz alta parecia estranho.
Nate juntou as sobrancelhas e espalhou as palmas das mãos na mesa.
Eles venderam você?
O tom dele soou com o mesmo horror abjeto que ela poderia sentir se não tivesse crescido nesta vida. Em vez disso, a dor se transformou em uma lâmina cega, continuando a apará-la.
É difícil ganhar dinheiro por aqui. Belle respondeu, tentando ao máximo permanecer inalterada, embora tremesse por dentro.
Ela gostaria de poder contar uma bela mentira, que seu tempo a serviço de Blair não foi tão ruim assim, mas o homem era tão monstruoso naquela época quanto era agora.
Ele estendeu a mão, descansando a palma acima da mão dela. O toque a chocou, um aperto suave e quente reverberando até o âmago.
Nate a olhou nos olhos, e ela se viu hipnotizada.
Vamos destruir Jack Blair. Não posso nem imaginar o que sofreu todos esses anos, mas terá sua liberdade, eu juro.
A voz dele engrossou com uma convicção que tensionou o ar entre eles. Ele era uma contradição constante: em um segundo era um poço de lógica e, no próximo, mostrava-se cheio de uma paixão que a atraia mais fundo.
Ela forçou um sorriso.
Calma, herói. Já fez uma boa ação ao oferecer-me esconderijo, e veja aonde isso o trouxe. Tendo a trazer ruína por onde passo, chame de maldição, personalidade rasa ou decisões atrozes na vida, escolha.
Ele não se afastou, a mão ainda sobre a dela. O calor que emanava dele, a maneira como ele falou em defesa dela quando ela não conseguia imaginar ninguém querendo fazê-lo, tudo isso causou um nó na garganta.
Nate balançou a cabeça e sorriu também.
Não entende como minhas primas podem ser convincentes quando querem. E não foi você quem destruiu minha loja, foi Blair e os capangas dele.
O olhar de Belle se desviou para a porta, que continuava a abrir e fechar com mais clientes a cada minuto ou assim. Não importava o quanto ela quisesse mergulhar na visão do homem lindo diante dela, ela precisava estar vigilante. Mesmo neste bar para operários, ela permanecia na cidade de Blair, o que significava não estar segura.
A verdade se enredava no fundo da mente. Ela nunca estaria segura até que Jack Blair estivesse morto.
A porta se abriu, e um homem corpulento entrou.
Boné-coco rasgado, carranca maldosa no rosto grande demais e um lenço marrom, ela reconheceria Lucas em qualquer lugar. Afinal, ele trabalhava para Jack Blair desde que ela conseguia se lembrar.
Belle abaixou a cabeça, apertando a mão de Nate para chamar a atenção.
Um dos homens de Blair acabou de entrar no bar. Precisamos escapar. Agora.