Eu fui a primeira a entrar em uma sala iluminada onde encontrei um homem encarregado do último exame antes da minuciosa inspeção médica final.
Esse exame foi, para mim, um papo agradável e relaxante, mas percebi que o homem tentava me deixar constrangida enquanto eu tentava não ceder.
Eu estava feliz.
Inesperadamente e depois de uma breve conversa inicial de apresentação, ele alegou não acreditar que eu fosse aquela pessoa positiva, correta e sociável que eu descrevia. Respondi que sentia muito, mas aquilo não me preocupava, pois sua avaliação talvez resultasse de nossa conversa amigável.
Fui convidada a participar da prova seguinte.
Saindo, pisquei para Stefy.
Não há nada com que se preocupar. Vai tranquila eu disse.
Stefania entrou logo depois.
Poucos minutos depois, vi-a sair muito séria.
Vai se ferrar, quem aquele mal educado pensa que é?
Stefania, o que aconteceu?
Não sei quem é ele, mas com certeza não quero nunca mais encontrar com um cara como aquele. Ele disse que meu cabelo é bagunçado e minhas roupas inadequadas.
Cabelo bagunçado? Roupa inadequada?
Que mal educado!
Como ele ousa?
Fez umas perguntas inoportunas, muito íntimas, e eu respondi que não eram da conta dele. Depois, me disse: mas quem você pensa que é? Naquele ponto, eu já estava bufando de ódio e respondi que ele deveria cuidar o que dizia. Depois, bati a porta na cara dele!
Era nossa teste de tolerância ao estresse. Em um trabalho que envolve contato contínuo com o público, essa é uma habilidade necessária.
Nem preciso dizer que Stefania não foi convidada para a prova seguinte.
Voltou para casa chocada, perguntando onde tinha errado. Seu noivo foi o único que ficou feliz com o insucesso, e suas perguntas ficaram para sempre sem resposta.
Enquanto isso, eu comecei um curso que durou três meses, onde fui treinada para extinguir incêndios e como me comportar em caso de emergência.
Também estudei as questões técnicas de diversos tipos de avião e a composição da bagagem, alguns pontos de medicina para a habilitação em primeiros socorros e, depois de superar os exames de técnica, medicina e inglês, estava pronta para entrar em um avião na posição que tanto sonhei: a de aeromoça.
Durante o curso, conheci três garotas, e ficamos amigas: Eva, Valentina e Ludovica.
Dividimos o quarto de hotel durante todo o período e, depois que assumimos o cargo, decidimos alugar uma casa em uma região perto do aeroporto Fiumicino, nossa base.
Foi assim que começou nossa aventura.
Eu, Eva, Valentina, Ludovica
A casa tinha dois quartos, cada um com uma cama de casal, e o único banheiro estava sempre ocupado: difícil encontrá-lo livre, assim como o telefone de casa.
Tentamos nos adaptar àquela situação e conseguimos conviver, não sem alguns pequenos desentendimentos, tentando chegar a pequenos compromissos (o mais difícil era decidir quem lavaria os pratos sujos).
Eva tinha lindos cabelos ruivos, ondulados e sedosos que deslizavam pelas costas. Seus olhos castanhos claros pareciam verdes nos dias mais ensolarados, seu porte era ágil e esbelto. Vinha do "alto Bérgamo", como ela dizia, e tinha o espírito de "verdadeira napolitana", expansivo e caloroso. Amava a bagunça, sempre tinha uma máscara facial para experimentar e era frequente que perambulasse pela casa com a sua favorita, de argila verde. Usava óleo de amêndoas para deixar os cabelos mais sedosos.
Ludovica nunca parava de falar e não sabia fazer parar o palavrório que nos atingia assim que abrisse a boca.
Era loira com lindos cachos, olhos intensamente azuis e uma pele lisa e clara. Suas curvas eram fartas e harmônicas. Muito organizada e meticulosa (o oposto de Eva), usava tailleurs de marca e guardava seus suéteres individualmente em sacos plásticos transparentes. Cozinhava maravilhosamente.
Vinha da Sardenha e era noiva de um rapaz seu conterrâneo que vinha com frequência ficar conosco, às vezes obrigando sua companheira de quarto, Eva, a dormir no sofá.
Ludovica era doida por penteados.
Eu dividia um quarto com Valentina, que era uma moça cheia de vida e entusiasmo, muito sensível, honesta e generosa.
Seus cabelos eram escuros e lisos, com corte chanel. Os olhos eram pretos, muito profundos e sensuais, e o porte físico era enxuto e bem modelado.
Valentina gostava de dormir tarde, melhor se a noite fosse acompanhada de seu drink favorito: Montenegro com gelo. De manhã, demorava no banheiro porque as lentes de contato davam muito trabalho.
Éramos muito próximas.
Hoje fomos convidadas para a festa de boas-vindas na casa daqueles pilotos que vivem na rua Masotta, perto de casa! disse Eva.
Por que não damos um pulo? eu disse.
Sim! concordou Valentina.
Estou curiosa para conhecer nossos vizinhos.
Ludovica foi logo montar um penteado, e eu provei quase todos os vestidos do armário, me perguntando se eu algum dia conseguiria fechar o zíper lateral daquelas lindas calças azuis. Eva usou seu novo óleo essencial de lírio-do-vale, e Valentina correu para se maquiar.
Alegres, demos os primeiros passos em direção àquele mundinho à parte, até então desconhecido: o reino dos "voláteis", diferente dos meros "passageiros", como costumam distinguir aqueles que trabalham nos aviões.
O que logo percebemos "neles" foi a familiaridade com lugares que nós só sonhávamos em visitar e a facilidade que tinham de alcançá-los graças ao hábito de viajar; a capacidade de se adaptar em qualquer lugar do mundo, devida ao conhecimento da população e dos territórios, da cultura e das tradições; a profusão de amizades que conseguiam manter em diversos lugares, pois os frequentavam constantemente; a mente aberta, necessária para estar em contato com o mundo e seus habitantes, assim como muitas manias e fixações que cada um carregava consigo naquela segunda casa que era a mala de viagem.
Uma vez volátil, sempre volátil disseram-nos baixinho, como se fosse uma verdade oculta, uma marca que carregaríamos para sempre.
Compreendemos que começar a "voar" seria como viver duas vidas paralelas que vão se alternando sempre que se sai para trabalhar. É como falar uma língua nova, incompreensível aos demais, onde o mundo é a sua casa, e a casa é o seu mundo.
Descobrimos que havia eventos quase todas as noites. Éramos uma espécie de grande família que se reunia entre os que retornavam de voos e descansavam entre um turno e outro. Mas, se era preciso partir no dia seguinte, nos prometíamos ir dormir cedo para evitar aquela horrível dor de cabeça e náusea matinais que, no voo, ficam muito piores por causa da altitude e do ar condicionado.
Durante o trabalho, era necessário estar impecável. Os voos e os passageiros a enfrentar seriam uma dura prova, isso sabíamos bem.
Depois de ter assinado o contrato com a empresa, na grande sala de um majestoso edifício e, com grande surpresa, designado o destinatário do seguro de vida em caso de falecimento, constatamos emocionadas que logo nós também seríamos voantes "voláteis"
O primeiro voo
O primeiro voo é inesquecível para todos.
Fui designada para um bate e volta em Paris. Eu estava emocionada, desajeitada ao entrar naquele avião completamente vazio, pronto para receber nossa bagagem antes dos passageiros. Finalmente, comecei a conhecer os segredos dos galleys, que são uma espécie de cozinha de bordo onde estão os fornos para esquentar as refeições, a geladeira para manter as bebidas frescas, todos os carrinhos com os mantimentos, a área destinada ao lixo, os equipamentos necessários para o bom funcionamento do voo. Nessa área, é preparado todo o serviço antes que ele comece. Para as aeromoças, é o lugar mais íntimo, o único lugar suficientemente reservado, que permite alguns poucos minutos de distância dos passageiros, graças a uma cortina que concede alguns preciosos momentos de privacidade nos voos muito longos: as confidências e revelações geralmente vêm à tona ali, no "baú de segredos" das aeromoças.