Marco Lupis - Entrevistas Do Século Breve стр 5.

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Porém, para o governo, você esconde o rosto porque tem algo a esconder…

Eles não entenderam nada. Mas o verdadeiro problema não é nem o governo, são sim as forças reacionárias do Chiapas, os criadores e os latifundiários da área, com as suas “guardas brancas” privadas. Não acredito que exista muita diferença entre a tradicional abordagem racista de um branco da África do Sul perante um negro e aquele de um proprietário de terras do Chiapas em relação a um Índio. Aqui a expectativa de vida para um Índio é de 50-60 anos para os homens e 45-50 para as mulheres.

E as crianças?

A mortalidade infantil é altíssima. Agora vou lhe contar também a história de Paticha. Uma vez, há um tempo, deslocando-nos de uma zona à outra da Selva, acontecia atravessar uma pequena comunidade, muito pobre, onde sempre nos acolhia um companheiro zapatista com uma menina de três-quatro anos. Ela se chamava Patricia, mas ela pronunciava o seu nome “Paticha”. Eu lhe perguntava o que queria fazer quando ficasse grande e ela me respondia sempre: «guerrilheira». Uma noite, a encontramos com febre alta. Não tínhamos antibióticos e ele deveria estar com quarenta ou mais de febre. Os panos molhados secavam sobre ela como se fosse uma estufa. Ela morreu entre os meus braços. Patricia não tinha uma certidão de nascimento. E nem teve uma de morte. Para o México, nunca existiu, nem a sua morte nunca ocorreu. É isso, esta é a realidade dos Índios do Chiapas.

O Movimento Zapatista colocou em crise Todo o sistema político mexicano, mas não venceu.

O México precisa de democracia e de pessoas acima das partes que a garantam. Se a nossa luta for útil para alcançar este objetivo, não terá sido uma luta em vão. Mas o Exército Zapatista nunca se converterá em um partido político. Desaparecerá. E o dia em que isto acontecer, significará que teremos democracia.

E se isto não ocorrer?

Militarmente, estamos cercados. A verdade é que dificilmente o governo irá querer ceder porque o Chiapas e a selva Lacandona em particular, boiam literalmente sobre um mar de petróleo. E o petróleo do Chiapas é a garantia que o Estado mexicano deu aos Estados Unidos para os bilhões de dólares que os EUA lhes emprestaram. Não pode mostrar aos americanos que não tem o controle da situação.

E vocês?

Nós, em vez disso, não temos nada a perder. E a nossa é uma luta pela sobrevivência e para uma paz digna.

A nossa é uma luta justa.

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Peter Gabriel

O duende do Rock

A cada sua (rara) exibição, o lendário fundador e líder dos Genesis confirma que o seu apetite para cada forma de ensaio musical, cultural e tecnológico é realmente ilimitado.

Encontrei Peter Gabriel para esta entrevista exclusiva no curso da manifestação musical «Sonoria», três dias milaneses totalmente dedicados ao rock. Em duas horas de grande música, Gabriel cantou, dançou e saltou como uma mola, envolvendo o público em um espetáculo que, como sempre, foi bem além de um simples concerto de rock.

No fim do concerto me convidou a subir com ele na limusine que o levava embora e enquanto corríamos para o aeroporto, me falou sobre ele, dos seus projetos futuros, do empenho social contra o racismo e a injustiça ao lado da Amnesty International, da sua paixão pelas tecnologias multimídia e os segredos do novo disco, «Secret World Live», que estava para lançar em todo o mundo.

O fim do racismo na África do Sul, o fim do apartheid; foi também uma vitória do rock?

Foi uma vitória do povo sul-africano. Mas acredito que a música rock tenha contribuído com este resultado, tenha de algum modo assistido.

De que modo?

Penso que os músicos tenham feito bastante para elevar o nível de consciência da opinião pública europeia e americana para este problema. Escrevi também canções como "Biko", para fazer com que os políticos de muitos países sustentassem as sanções contra a África do Sul e fizessem pressão. São pequenas coisas que certamente não mudarão o mundo, mas fazem uma diferença, uma pequena diferença que envolve todos nós. Nem sempre são as grandes manifestações, os gestos evidentes, para conseguir o melhor sobre a injustiça.

Em que sentido?

Vou dar-lhe um exemplo. Nos Estados Unidos há duas velhinhas do Meio-Oeste que são o bicho papão de todos os torturados da América Latina. Passam o tempo escrevendo para os diretores dos cárceres, sem trégua. E, sendo muito bem informadas, geralmente as suas cartas são publicadas com grande evidência nos jornais americanos. E, ainda, com frequência acontece que os prisioneiros políticos dos quais difundiram os nomes comecem quase como milagre, a ser deixados em paz. Isso, digo, quando falo de pequenas diferenças. No fundo, a nossa música é como uma carta delas!

O seu empenho contra o racismo liga-se estreitamente à atividade da sua etiqueta, a Real World, a favor da música étnica...

Com certeza. Para mim, foi uma grande satisfação reunir músicos tão diferentes, pertencentes a países tão longínquos, da China à Indonésia, da Rússia à África. Produzimos artistas como os chineses Guo Brothers ou o paquistanês Nusrat Fateh. Nos seus trabalhos, como naqueles dos outros músicos da Real World, senti muita inspiração. O ritmo, as harmonias, as vozes... Já de 1982, do resto, tinha começado a trabalhar nesta direção, organizando o festival de Bath, que era, no fundo, também a primeira aparição pública de uma associação que tinha acabado de fundar e que se chamava “Womad - World of Music Arts and Dance”. Ali, a gente podia participar ativamente do evento, tocando em muitos palcos junto aos grupos africanos. Enfim, foi uma experiência tão exaltante e significativa que, sucessivamente, foi repetida em muitas partes do mundo: Japão, Espanha, Tel Aviv, França...

Por isso, você é considerado o criador da World Music?

Real World e a World Music são principalmente uma etiqueta comercial, que publica música de artistas de todo o mundo para que aquela música possa chegar em todo o mundo, nas lojas de discos, nas rádios... Porém, eu espero que esta etiqueta desapareça logo, quando os artistas que incidem para mim ficarão famosos. Enfim, gostaria que acontecesse aquilo que aconteceu com Bob Marley e a música reggae: as pessoas não dizer mais «é reggae», diz «é Bob Marley». Espero que pouco a pouco ninguém mais diga dos meus artistas «é World Music?»

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