Mel foi até as árvores para sair da floresta. Suas garras a ajudaram, permitindo que cavasse a casca e se erguesse em galhos robustos. Saltou de árvore em árvore, seguindo devagar, mas deixando um rastro de cheiro muito mais discreto. Paralisou ao ouvir outro rugido, este diferente do primeiro. O rugido do primeiro leão foi cheio de raiva e arrependimento, o chamado de um animal determinado a se vingar. Este era alegre.
Cassie foi encontrada.
Viva.
Mel não deixou que isso a impedisse. Percorreu quilômetros e quilômetros de distância até o pequeno estacionamento no parque nacional, perto dos limites do território de Luke. Ela se sentou em um grande galho e esperou alguns momentos para transformar suas patas de volta em mãos humanas. Não foi uma tarefa difícil, mas demorou. E enquanto se mexia lentamente, cada junta de seus dedos doía em protesto pelo que ela havia exigido ao escalar dezenas de árvores de uma forma inadequada.
Estava pronta para pular da árvore quando uma jovem saiu da floresta no caminho panorâmico do parque nacional. Parecia mais jovem do que Mel, talvez com uns vinte e poucos anos, longos cabelos negros e pele clara. Usava jeans, blusa de seda e botas de caminhada. Em seu pulso, Mel podia ver um brilho prateado, talvez de um relógio ou pulseira.
Era estranho que mulher estivesse sozinha na floresta à noite. Até mesmo Mel só estava lá para seu próprio propósito nefasto. Suspeitou imediatamente da mulher. Ainda mais quando a moça pegou um telefone celular e o levou ao ouvido. Mel teve que se concentrar para ouvir, mas podia entender as palavras claramente.
— Avise a ela que foi um sucesso. A garota foi devolvida. — Mel teria congelado no lugar se ela já não estivesse parada. A mulher continuou a falar. — Vou precisar fazer um novo pedido de suprimentos de um coven local. Vladimir subestimou minhas necessidades... entendo. Estarei a postos. — Ela desligou sem se despedir.
Mel ficou na árvore até que a mulher foi embora em um sedan prateado. Pela placa, ela podia dizer que era alugado.
Parecia que Cassie não havia sido encontrada, mas sim devolvida. Mas o que as bruxas poderiam querer com uma metamorfo que nem mesmo conseguia se transformar? E por que alguém precisaria de suprimentos adicionais?
Mel tentou não deixar que isso a incomodasse. Desceu da árvore e entrou na velha picape enferrujada que havia roubado no meio do caminho entre Colorado e Wisconsin. Escolheu este estacionamento como ponto de acesso para seu próximo roubo e planejou conseguir um novo carro em Denver, onde estava hospedada.
Era uma viagem de duas horas para aquela cidade. Mel deixou os quilômetros passarem, seguindo sozinha na estrada com seus pensamentos. Depois de meia hora, ela ligou o rádio e cantou junto com uma canção country popular que tocava o tempo todo nas estações.
A distração não funcionou. Mas ela fez todo o caminho até Denver sem decidir se deveria descobrir o que as bruxas queriam.
Maya havia recebido a dica sobre Cassie há uma hora. Luke levou vinte minutos para mobilizar o grupo de busca e mais uns doze minutos para que eles se espalhassem pela floresta. Soltou um rugido enfurecido, desesperado para encontrar sua irmã e levá-la de volta para casa. Ela já tinha desaparecido há muito tempo, mas ele não a perderia.
O som saiu de sua boca humana, batendo contra suas cordas vocais e deixando dor em seu rastro. Não se importou. Não havia dor grande demais, nem tarefa difícil demais que o impedisse de encontrar Cassie.
Ele encontrou o cheiro dela e se agarrou a ele, seguindo-o por trilhas que não existiam, saltando sobre galhos caídos e batendo no mato. Sua busca não foi silenciosa – ele assustou os habitantes desta floresta ao trazer todos os seus predadores para a busca. Se separaram, procurando em grupos de dois e três. Ele estava com outros quatro leões. Eles não deixariam seu líder vulnerável no que poderia muito bem ser uma armadilha.
Mas Maya confiava em sua fonte e Luke confiava em Maya. Eles iriam encontrar Cassie. Sã e salva.
A floresta terminou de forma abrupta, abrindo-se em uma ampla clareira. Luke avistou Cassie, movendo-se no meio de um anel de cogumelos a apenas quinze metros de distância. Soltou outro rugido, este rouco e alegre, e correu pela clareira, pisando nos cogumelos e pegando a irmã em seus braços.
Cassie o teria abraçado, mas suas mãos estavam presas com algemas prateadas e seus pés estavam amarrados com uma corda. Ela cravou o rosto na curva de seu pescoço e ele pôde sentir as lágrimas da jovem contra sua pele.
— Eu estava com tanto medo — ela falou. — Obrigada. — Soluçou as palavras, quase sem fôlego com a força de seu abraço.
Luke ajeitou o cabelo dela. Era uma massa de nós loiros com algumas folhas presas, quase como se ela tivesse estado na floresta por mais tempo do que as poucas horas que o informante de Maya disse que ela estava.
— Estamos com você. — Ele beijou sua testa e se afastou para tentar remover as restrições.
Ele ouviu mais dois de seus leões entrando na clareira enquanto ele trabalhava. Teve que se afastar rapidamente após um toque nas algemas. O teor de prata era tão alto que ele já podia sentir seus dedos coçando em reação. Ele sempre teve uma baixa tolerância a esse metal, mas normalmente levava pelo menos alguns momentos para uma reação alérgica aparecer.
— Preciso de uma chave para essas algemas! — Exigiu e se moveu para desamarrar as pernas de Cassie. Ela ficou parada, e como era uma corda comum, embora grossa, foi capaz de libertá-la rapidamente.
— Isso não é o mesmo, eu te disse — Javier, um dos leões que se voluntariado para procurar, falou. Ele não era um farejador e nunca havia caçado uma pessoa antes. Mas Luke precisava de toda ajuda possível.
Alisha, a parceira dele, respondeu.
— Provavelmente cobrimos o terreno de outra pessoa. — Ela deixou Javier e se aproximou de Luke. Alisha havia se mudado para seu território há apenas três meses, tendo trabalhado antes no CDC, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta, até que recebeu uma oferta de emprego boa demais para recusar em Denver. Ela não vivia dentro do território da alcateia, mas isso não a impediu de rapidamente se tornar um membro importante do grupo.
Javier, por outro lado, nasceu e cresceu em Eagle Creek e era dono de um pequeno escritório de contabilidade que administrava as finanças de várias empresas da região. Eles foram os primeiros a se juntarem a Luke e seus companheiros nesta clareira. O resto do grupo chegou aos poucos.
Mick, um garoto que esteve em apuros recentemente por se envolver em confusão e falhar em seu dever de guarda, rapidamente arrombou as travas das restrições de Cassie. No momento, Luke ficou feliz que o garoto tivesse essa habilidade, mas fez uma nota mental para descobrir por que os garotos de sua alcateia estavam aprendendo a arrombar as coisas.
Já houvera roubos suficientes para uma vida inteira.
Depois de garantir que Cassie não estava com armadilhas explosivas e que não havia outras surpresas desagradáveis na clareira, Luke ajudou a irmã a se levantar e foram até onde ele havia estacionado o carro para levá-la de volta para casa.
Ele esperava que Cassie dormisse depois de tomar um banho, mas sua irmã mais nova o chamou para conversar enquanto estava ocupada secando o cabelo. Agora que a garota não estava mais coberta de manchas de sujeira e grama, ele podia ver hematomas pretos e marrons cobrindo a pele pálida. A violência rugia dentro dele, que queria correr e caçar quem quer que tivesse feito isso com ela. Mas Luke estava grato que seus únicos ferimentos pareciam ser superficiais. Sem ossos quebrados, nem nada pior.