"Agora eu preciso daquela faixa," diz Godfrey, voltando-se para Merek. "Você pode pegá-la para mim?"
Merek, intrigado, segue a direção dos olhos de Godfrey e vê o prisioneiro deitado inconsciente no poço.
"Por quê?" Ele pergunta.
"Faça o que eu estou lhe pedindo," Ordena Godfrey.
Merek franze a testa.
"Se eu amarrar algo, talvez eu possa alcançá-la" Explica ele. "Alguma coisa comprida e fina."
Merek estende a braço, coloca as mãos na gola de sua camisa e extrai um pedaço de arame dela; então, ele o desdobra e percebe que o arame é longo o suficiente para suas necessidades.
Merek se inclina contra as grades da prisão, com cuidado para não alertar o guarda, e estende a mão com o arame, tentando pescar a faixa. Ele começa a arrastá-la pelo chão, mas ela logo cai.
Ele tenta várias outras vezes, mas o cotovelo de Merek fica preso nas barras da cela. Seus braços não são magros o suficiente.
O guarda se vira na direção deles e Merek rapidamente recolhe o braço antes que possa ser visto.
"Deixe-me tentar," Pede Ario, dando um passo à frente quando o guarda lhes dá as costas novamente.
Ario segura o arame, estica o braços através das barras e, por ser muito magra, ele consegue enfiá-lo através das barras da cela até o ombro.
Aqueles centímetros a mais são exatamente do que eles precisam. O arame alcança o fim da faixa vermelha e Ario começa a puxá-la em sua direção. Ele para quando o guarda, cochilando de costas para eles, levanta a cabeça e olha em sua direção. Todos eles esperam, suando e rezando para que o guarda não veja o que eles estão fazendo. Eles esperam pelo que parece uma eternidade, até que finalmente o guarda começa a cochilar novamente.
Ario puxa a faixa cada vez mais perto, deslizando-a pelo chão da prisão, até que, finalmente, ele consegue puxá-la para dentro da cela.
Godfrey estende o braço e veste a faixa, e todos eles se afastam dele com medo.
"Que diabos você está fazendo?" Pergunta Merek. "A faixa está contaminada com peste. Você pode infectar todos nós."
Os outros presos na cela também recuam.
Godfrey olha para Merek.
"Eu vou começar a tossir e não vou parar," Ele diz enquanto veste a faixa e seu plano vai tomando forma em sua mente. "Quando o guarda se aproximar, ele verá o meu sangue e esta faixa, e você vai dizer a ele que eu estou com a peste e que eles cometeram um erro em não me separar do grupo."
Godfrey não perde tempo. Ele começa a tossir violentamente, espalhando o sangue em seu rosto para ficar com a pior aparência possível. Ele tosse mais alto do jamais havia tossido antes até que, finalmente, ele ouve a porta da cela se abrir e os passos do guarda.
"Façam seu amigo calar a boca," Diz o guarda. "Vocês estão entendendo?"
"Ele não é meu amigo," Responde Merek. "Apenas um homem que nós conhecemos. Um homem contaminado com a peste."
O guarda, perplexo, olha para baixo, nota a faixa vermelha e seus olhos se arregalam.
"Como ele entrou aqui?" Pergunta o guarda. "Ele deveria ter sido separado."
Godfrey tosse cada vez mais, todo o seu corpo torturado pelo acesso de tosse.
Ele logo sente mãos ásperas agarrando-o e arrastando-o para fora aos empurrões. Ele tropeça e, com um último empurrão, é atirado dentro do poço com as outras vítimas da peste.
Godfrey cai em cima de um corpo infectado, tentando não respirar muito fundo e virando a cabeça na outra direção para não se contaminar com a doença do homem. Ele reza a Deus para que isso não aconteça. Aquela certamente será uma longa noite, deitado ali, mas ele não está sendo supervisionado agora e, quando o dia amanhecer, ele poderá sair. E então, ele irá atacar.
CAPÍTULO OITO
Thorgrin percebe que seu corpo mergulhando no oceano à medida que a pressão nos seus ouvidos aumenta quando ele afunda na água gelada, tendo a sensação de que está sendo perfurado por um milhão de adagas. No entanto, ao mergulhar mais fundo, a coisa mais estranha acontece: a luz não fica mais escura e sim, mais brilhante. Ao mesmo tempo em que ele se debate, afundando, arrastado para o fundo pelo peso do mar, ele olha para baixo e fica espantado ao ver, envolta por uma nuvem de luz, a última pessoa que ele havia pensando encontrar ali: sua mãe. Ela sorri para ele, a luz tão intensa que Thorgrin mal consegue ver o rosto dela, e estende a mão para ele com os braços abertos enquanto ele afunda na direção dela.
"Meu filho," ela diz, sua voz cristalina apesar das águas. "Eu estou aqui com você. Eu amo você. Essa não é a sua hora ainda. Seja forte. Você passou no teste, mas há muito mais por vir. Enfrente o mundo e nunca se esqueça de quem você é. Nunca se esqueça: o seu poder não vem de suas armas, mas de dentro de você."
Thorgrin abre a boca para responder, mas ao fazer isso, ele se vê sendo sugado pela água e começa a se afogar.
Thor acorda assustado e olha ao seu redor, se perguntando onde ele está. Ele sente um material áspero em seus pulsos e percebe que está amarrado com as mãos atrás das costas, contra um poste de madeira. Ele olha ao redor do porão escuro, sente o movimento de balanço e imediatamente percebe que ele está em um navio. Ele sabe pelo jeito que seu corpo se move, pela luz que invade o local e pelo cheiro de mofo dos prisioneiros que ele está no convés inferior.
Thorgrin observa seus arredores, imediatamente atento apesar da sensação de fraqueza, e tenta se lembrar. A última coisa que ele lembra é daquela terrível tempestade e de ver seus homens caindo no mar. Ele se lembra de Angel, de ter se agarrado a ela com todas as suas forças, e se lembra da espada em seu cinto, a Espada dos Mortos. Como ele havia sobrevivido?
Thor continua olhando ao seu redor, se perguntando como ele pode estar navegando no mar, confuso e procurando desesperadamente por seus irmãos e por Angel. Ele se sente aliviado ao ver as formas na escuridão e identificar todos eles nas proximidades, amarrados aos postes com cordas: Reece e Selese, Elden e Indra, Matus, O'Connor e, a alguns metros de distância deles, Angel. Thor fica feliz em ver que eles estão todos vivos, embora pareçam exaustos, abatido pela tempestade e pelos piratas.
Thor ouve gargalhadas, discussões e aplausos vindos de algum lugar lá em cima e, em seguida, o que parecem ser explosões em seus ouvidos quando homens caem uns sobre os outros na plataforma acima dele, e finalmente se lembra da presença dos piratas. Aqueles mercenários que haviam tentado afogá-lo no mar.
Ele é capaz de reconhecer aquele som em qualquer lugar; o som de indivíduos brutos, entediados no mar e cheios de crueldade – ele tinha encontrado muitos homens assim antes. Ele percebe que ele é prisioneiro deles agora e começa a forçar suas cordas, tentando se libertar.
Mas ele não consegue. Seus braços tinham sido bem amarrados, assim como seus tornozelos. Ele não irá a lugar nenhum.
Thorgrin fecha os olhos, tentando reunir o seu poder interior, o poder que ele sabe ser capaz de mover montanhas se ele assim escolher.
Mas nada acontece. Ele está muito cansado por causa do naufrágio e suas energias ainda estão muito baixas. Ele sabe por experiência que ele precisa de tempo para se recuperar. Tempo, ele sabe, que ele não possui.
"Thorgrin!" Diz uma voz aliviada, cortando a escuridão. Aquela é uma voz que ele reconhece bem e ele logo vê Reece, amarrado a alguns passos de distância, olhando para ele com alegria. "Você está vivo!" Continua Reece.
"Nós não sabíamos se você conseguiria sobreviver!"
Thor vê O'Connor amarrado do outro lado de Reece e igualmente alegre.
"Eu estive rezando por você durante todo esse tempo," diz uma voz doce e suave na escuridão.
Thor olha para o lado, vê Angel com lágrimas de alegria em seus olhos, e percebe o quanto ela se importa com ele.