Luanda observa, horrorizada, quando um dragão de repente abre a sua boca, desce, e sopra uma corrente de fogo nos homens sobre a ponte.
Milhares dos soldados do Império gritam, olhando para os céus quando uma grande muralha de fogo toma conta deles.
Os dragões continuam a voar, cuspindo fogo enquanto atravessam a ponte, queimando todos os homens de Romulus. Em seguida, eles continuam a voar, sobrevoando o Anel, cuspindo fogo e destruindo todos os homens do Império que encontram pela frente, enviando onda após onda de destruição.
Dentro de momentos, não restam homens Império na ponte, ou no continente do Anel.
Os homens do Império que se dirigiam para a ponte, que estavam prestes a cruzar, ficam paralisados no lugar. Eles não se atrevem a entrar. Em vez disso, eles se viram e começam a fugir de volta para os navios.
Romulus observa seus homens correndo, irado.
Luanda continua sentada, atordoada, e percebe que aquela é a chance que ela estava esperando. Romulus está distraído, enquanto persegue seus homens tentando levá-los de volta para a ponte. Esta é sua oportunidade.
Luanda fica em pé, com coração batendo acelerado, se vira e corre de volta para a ponte. Ela sabe que tem apenas alguns momentos preciosos; se ela tiver sorte, talvez, apenas talvez, ela possa correr o suficiente antes que Romulus perceba, e chegar ao outro lado. E se ela chegar ao outro lado, talvez ela consiga reativar o Escudo.
Ela tem que tentar, e sabe que é agora ou nunca.
Luanda corre sem parar, respirando com tamanha dificuldade que ela mal consegue pensar, com as pernas tremendo. Ela tropeça em seus próprios pés, as pernas pesadas, sua garganta seca, sacudindo os braços enquanto corre e com o vento frio soprando sua cabeça careca.
Ela corre cada vez mais, com o coração batendo em seus ouvidos e o som de sua própria respiração enchendo seu mundo, à medida que sua visão se torna turva. Ela corre uns cinqüenta metros sobre a ponte antes de ouvir o primeiro grito.
Romulus. Claramente, ele a tinha visto.
Atrás dela de repente vem o som de homens atacando a cavalo, atravessar a ponte em busca dela.
Luanda corre, aumentando seu ritmo, ao sentir que os homens estão se aproximando dela. Ela passo correndo por todos os cadáveres dos homens Império, queimado pelos dragões, alguns ainda em chamas, fazendo o possível para evitá-los. Atrás dela, o barulho dos cavalos se torna ainda mais alto. Ela olha por cima do ombro, vê suas lanças erguidas e sabe que desta vez Romulus tem a intenção de matá-la. Ela sabe que, em alguns momentos, aquelas lanças seriam enfiadas em suas costas.
Luanda olha pra frente, e vê o Anel, – o continente, poucos metros à sua frente – se ela conseguir chegar até lá. Apenas mais alguns metros. Se ela ao menos conseguir atravessar a fronteira, talvez, apenas talvez, o Escudo seja reativado e a salve.
Os homens se aproximam dela enquanto ela dá os passos finais. O som dos cavalos é ensurdecedor em seus ouvidos, e ela sente o cheiro do suor dos cavalos e dos homens. Ela se prepara, esperando que a ponta de uma das lanças perfure suas costas a qualquer momento. Eles estão muito perto, mas ela também está quase lá.
Em um último ato de desespero, Luanda mergulha ao ver um soldado levantar a mão empunhando uma lança atrás dela. Ela cai no chão dando uma cambalhota. Com o canto do olho, ela vê a lança atravessando o ar, indo diretamente até ela.
No entanto, assim que Luanda cruza a ponte, desembarcando no continente do Anel, de repente, atrás dela, o Escudo é ativado novamente. A lança, centímetros atrás dela, se desintegra no ar. E atrás da lança, todos os soldados na ponte gritam, levantando as mãos para o rosto, enquanto entram em chamas, se desintegrando.
Em momentos, todos eles são apenas montes de cinzas.
Do outro lado da ponte Romulus fica de pé, assistindo a tudo. Ele grita e bate no peito. É um grito de agonia. Um grito de alguém que havia sido derrotado. Vencido.
Luanda permanece ali, respirando com dificuldade, em estado de choque. Ela se inclina e beija o solo diante dela. Em seguida, ela joga a cabeça para trás e ri com prazer.
Ela havia conseguido – estava em segurança.
CAPÍTULO SEIS
Thorgrin está em pé na clareira, de frente para Andronicus, cercado por ambos os exércitos. Eles ficam parados, observando enquanto pai e filho se enfrentam mais uma vez. Andronicus fica lá em toda a sua glória, elevando-se sobre Thor, empunhando um enorme machado em uma mão e uma espada na outra. Enquanto Thor o encara, ele se esforça para respirar lenta e profundamente, controlando suas emoções. Thor precisa se controlar, se concentrar para lutar contra aquele homem da mesma forma que faria contra qualquer outro inimigo. Ele precisa dizer a si mesmo que não está diante de seu pai, mas em frente ao seu pior inimigo. O homem que havia machucado Gwendolyn; o homem que tinha machucado todos os seus compatriotas; o homem tinha feito uma lavagem cerebral nele. Um homem que merece morrer.
Com Rafi morto, Argon de volta no controle, todos os mortos-vivos de volta nas profundezas da terra, não há mais como adiar o confronto final, a batalha de Andronicus com Thorgrin. Esta seria a batalha que determinaria o destino da guerra. Thor não pretende deixar que ele escape – não desta vez. Andronicus, finalmente encurralado, parece disposto a enfrentar seu filho.
"Thorgrin, você é meu filho," Andronicus diz com a voz baixa. "Eu não quero machucá-lo."
"Mas eu quero matar você," Thor responde, recusando-se a ceder aos jogos mentais de Andronicus.
"Thorgrin, meu filho," Andronicus repete, quando Thor dá um passo cauteloso na direção dele, "eu não quero te matar. Abaixe suas armas e junte-se a mim. Junte-se a mim como você tinha feito antes. Você é meu filho. Você não é filho deles. Você carrega o meu sangue em suas veias, e não o deles. Minha pátria é a sua terra natal; o Anel é apenas um lugar que você adotou. Você faz parte do meu povo. Essas pessoas não significam nada para você. Venha para casa. Volte para o Império. Permita-me ser o pai que você sempre quis. E torne-se o filho que eu sempre quis que você fosse.
"Eu não lutarei contra você," Andronicus fala, finalmente, abaixando seu machado.
Thor acredita ter ouvido o suficiente. Ele precisa tomar uma atitude agora, antes que ele permita que sua mente seja influenciada por aquele monstro.
Thor deixa escapar um grito de guerra, levanta a espada e ataca, trazendo-a para baixo com ambas as mãos visando acertar a cabeça de Andronicus.
Andronicus olha com surpresa e, então, no último segundo, ele se abaixa, pega o machado do chão e bloqueia o golpe de Thor.
Faíscas voam da espada de Thor quando as duas armas se encontram a centímetros de distância, e os dois gemem enquanto Andronicus detém o golpe de Thor.
"Thorgrin," diz Andronicus, "sua força é grande. Mas é a minha força. Eu lhe dei esse poder. Meu sangue corre em suas veias. Pare com essa loucura, e junte-se a mim!"
Andronicus empurra Thor para trás, e Thor cambaleia.
"Nunca!" Thor grita, desafiante. "Eu nunca vou voltar para você. Você não é um pai para mim. Você é um estranho. Você não merece ser meu pai!"
Thor ataca novamente, gritando e golpeando mais uma vez com sua espada. Andronicus bloqueia o golpe e Thor, esperando por isso, rapidamente vira a sua espada e corta o braço de Andronicus.
Andronicus grita quando o sangue esguicha de seu braço. Ele tropeça e olha para Thor com descrença, esticando o braço para tocar sua ferida e, em seguida, examina o sangue em sua mão.
"Você quer me matar," Andronicus diz, como se estivesse finalmente percebendo aquilo. "Depois de tudo que eu fiz por você."