Thor fica em cima dele, imobilizando-o enquanto se prepara para lutar com as próprias mãos, quando Andronicus estende o braço e agarra sua garganta. Thor se surpreende com a força do pai; e sente que está perdendo o fôlego e que morrerá sufocado.
Thor procura em sua cintura, desesperado, em busca de sua adaga. O punhal real, que o rei MacGil havia lhe dado antes de morrer. Thor está ficando sem ar rapidamente, e sabe que se não encontrá-lo morrerá em breve. Ele consegue encontrá-la bem a tempo, e enfia a adaga com as duas mãos no peito de Andronicus.
Andronicus estremece, – surpreso e ferido mortalmente, mas continua enforcando seu filho.
Thor, sem fôlego, está começando a ver estrelas, prestes a desmaiar.
Por fim, lentamente, Andronicus solta seu pescoço, e seus braços caem ao lado de seu corpo. Seus olhos parecem vidrados, e ele não se move.
Ele permanece imóvel. Morto.
Thor respira profundamente enquanto tira a mão flácida de seu pai de sua garganta, arfando e tossindo, rolando o corpo de seu pai para o lado.
Seu corpo inteiro está tremendo. Ele havia acabado de matar seu pai. Ele não pensava que isso fosse possível.
Thor olha em volta e vê todos os guerreiros, os dois exércitos, encarando-o em estado de choque. Thor sente um tremendo calor percorrer seu corpo, como se alguma profunda mudança estivesse ocorrendo dentro dele, como se ele estivesse limpando alguma parte mal dentro de si mesmo. Ele se sente mudado, mais leve.
Thor ouve um barulho no céu, como um trovão, e vê uma pequena nuvem negra aparecer sobre o cadáver de Andronicus, e um funil de pequenas sombras negras, como demônios, girando até o chão. Eles rodam em torno de seu pai, erguendo seu corpo enquanto uivam, e em seguida, levantam seu corpo para o alto, mais e mais, até que desaparecem na nuvem. Thor observa, em estado de choque, e se pergunta para qual inferno o espírito de seu pai seria arrastado.
Thor olha para cima, e vê o exército do Império diante dele, centenas de milhares de homens, com um olhar de vingança nos olhos. O Grande Andronicus está morto, mas ainda assim, os seus homens ainda resistem. Thor e os homens do Anel ainda estão em menor número, cem para um. Eles haviam vencido a batalha, mas estão prestes a perder a guerra.
Erec e Kendrick e Srog e Bronson caminham para o lado de Thor, com espadas nas mãos, para enfrentarem o Império juntos. Trombetas soam na linha do exército do Império, e Thor se prepara para enfrentar a batalha pela última vez. Ele sabe que não poderia ganhar. Mas, ao menos todos iriam lutar juntos – em uma batalha épica.
CAPÍTULO SETE
Reece marcha ao lado de Selese, Illepra, Elden, Indra, O'Connor, Conven, Krog e Serna, nove deles marchando a oeste, como já faziam há horas, desde que tinham saído do Canyon. Em algum lugar, Reece sabe, seu povo o aguarda e, vivos ou mortos, ele está determinado a encontrá-los.
Reece tinha ficado chocado quando haviam passado por uma paisagem de destruição, intermináveis campos com cadáveres, carbonizado por dragões, com bandos de pássaros se alimentando deles. Milhares de cadáveres de soldados do Império pontuam o horizonte, alguns deles ainda com fumaça, que preenche o ar com o cheiro insuportável de carne queimada permeando a terra destruída. Aqueles que não haviam sido mortos pelo sopro do dragão tinham sido abatidos durante uma batalha convencional, e soldados do Império, MacGils e McClouds jazem mortos, e cidades inteiras foram destruídas – há pilhas de escombros por toda parte. Reece balança a cabeça: esta terra, que uma vez tinha sido tão abundante, agora está devastada pela guerra.
Desde haviam saído do Canyon, Reece e os outros estavam determinados a voltarem para casa, a voltarem para o lado MacGil do Anel. Sem encontrarem cavalos, eles marcham todo o caminho pelo território McCloud, ao longo das Highlands, até o outro lado, e agora, finalmente, eles se encontram no território MacGil, sem encontrar nada exceto ruína e devastação. Pela aparência da terra, os dragões pareciam terem ajudado a destruir as tropas do Império e, por isso Reece se sente grato. Mas Reece ainda não sabe em que estado se encontra seu próprio – estariam todos mortos? Até o momento, é essa a impressão que ele tem. Reece está ansioso para descobrir se estão todos bem.
Toda vez que encontram um campo com mortos e feridos, Illepra e Selese passam de corpo em corpo – aqueles que não foram carbonizados pelas chamas dos dragões, virando-os, verificando. Eles não são motivados apenas por suas profissões, Illepra também tem outro objetivo em mente: encontrar o irmão de Reece. Godfrey. É um objetivo que Reece e ela compartilham.
"Ele não está aqui," Illepra anuncia mais uma vez, quando ela finalmente termina, após ter verificado cada cadáver daquele campo, a decepção gravada em seu rosto.
Reece percebe o quanto Illepra se importa com seu irmão, e fica sensibilizada. Reece também tem esperanças de que ele esteja bem e entre os vivos, mas a julgar pela aparência daqueles milhares de cadáveres, ele tem um pressentimento de que talvez não o encontre.
Eles continuam marchando, passando por outra série de colinas, e quando terminam, eles avistam outro campo de batalha no horizonte, com milhares de cadáveres esparramados no chão. Eles continuam marchando naquela direção.
Enquanto caminham, Illepra chora baixinho. Selese coloca a mão em seu pulso.
"Ele está vivo," Selese a tranquiliza. "Não se preocupe."
Reece se adianta e coloca uma mão confortante em seu ombro, sentindo compaixão por ela.
"Se há uma coisa que eu sei sobre meu irmão," Reece diz, "é que ele é um sobrevivente. Ele encontra uma maneira de sair de qualquer confusão. Até mesmo a morte. Eu prometo. É mais provável que Godfrey esteja em alguma taverna por aí, bêbado."
Illepra ri por entre as lágrimas e enxuga seu rosto.
"Espero que sim," ela fala. "Pela primeira vez, eu realmente espero que sim."
Eles continuam a sua marcha sombria, silenciosamente atravessando o deserto, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Imagens do Canyon passam pela cabeça de Reece; ele não consegue suprimi-las. Ele volta a pensar na situação desesperadora que havia superado, e se sente eternamente grato a Selese; se ela não tivesse aparecido naquele momento, eles ainda estariam lá, e com certeza, mortos.
Reece se aproxima e pega a mão de Selese sorrindo, e os dois caminham de mãos dadas. Reece pensa no amor e devoção que ela sente por ele, e fica tocado que ela tenha atravessado todo o campo de batalhas apenas para salvá-lo. Ele sente um tremendo amor por ela, e ele mal pode esperar até que eles tenham um momento a sós para que ele possa demonstrar todo seu sentimento por ela. Ele já tinha decidido que queria ficar com ela para sempre. Ele sente uma lealdade a ela, diferente do que já havia sentido por qualquer outra pessoa, e assim que tivesse um momento, ele pretende pedi-la em casamento. Ele daria a ela o anel de sua mãe, o anel que ele havia prometido para a mãe que entregaria para o amor de sua vida – quando a encontrasse.
"Eu não posso acreditar que você atravessou o Anel por mim," Reece fala para ela.
Ela sorri.
"Não foi tão longe," responde ela.
"Não foi longe?" ele pergunta. "Você coloca sua vida em perigo ao atravessar um país devastado pela guerra. Devo-lhe uma. Mais ainda do que eu poderia dizer."
"Você não me deve nada. Estou feliz que você está vivo."
“Nós todos devemos a você," Elden entra na conversa. "Você salvou todos nós. Ainda estaríamos todos presos lá embaixo, perdidos no Canyon, para sempre."
"Falando de dívidas, tenho algo a discutir com você," Krog fala para Reece, chegando ao seu lado, mancando um pouco. Desde que Illepra havia colocado uma tala na perna dele, no topo do Canyon, Krog tinha, ao menos, sido capaz de caminhar por conta própria, mesmo que com dificuldade.