Bill já tinha chegado. Ainda parecia extremamente ansioso. Riley esperava compreender em breve porquê.
Mal Riley se sentou, Meredith debruçou-se sobre a secretária na sua direção com aquele seu rosto amplo e angular de Afro-Americano sempre desafiador.
“Comecemos pelo início Agente Paige,” Disse ele.
Riley esperou que ele dissesse algo diferente – que fizesse uma pergunta ou desse uma ordem. Mas em vez disso, limitou-se a olhar para ela.
Demorou apenas um momento para Riley perceber onde é que Meredith queria chegar.
Meredith estava a ter o cuidado de não colocar a pergunta. Riley apreciou a sua descrição. Um assassino ainda estava à solta e o seu nome era Shane Hatcher. Ele fugira de Sing Sing e o caso mais recente de Riley fora capturar Hatcher.
Riley falhara. Na verdade, ela nem sequer tentara e agora outros agentes de FBI tinham a tarefa de o capturar. Até ao momento, não o tinham conseguido.
Shane Hatcher era um génio do crime que se tornara num respeitado perito em criminologia durante a sua longa permanência na prisão. Riley tinha-o visitado algumas vezes na prisão para obter conselhos sobre os seus casos. Conhecia-o suficientemente bem para ter a certeza de que não constituía um perigo para a sociedade naquele momento. Hatcher tinha um código moral estranho mas rígido. Matara um homem desde a sua fuga – um velho inimigo que era, ele próprio, um criminoso perigoso. Riley tinha a certeza de que ele não mataria mais ninguém.
Naquele momento, Riley compreendia que Meredith precisava de saber se ela sabia alguma coisa de Hatcher. Era um caso de grande importância e parecia que Hatcher se estava rapidamente a tornar em algo semelhante a uma lenda urbana – um mestre do crime famoso capaz de tudo.
Riley apreciava a descrição de Meredith em não lhe colocar abertamente a pergunta mas a verdade era que Riley não sabia nada das atuais atividades de Hatcher ou o seu paradeiro.
“Não há nenhuma novidade,” Disse Riley em resposta à pergunta não pronunciada de Meredith.
Meredith anuiu e pareceu descontrair um pouco.
“Então muito bem,” Disse Meredith. “Vou direto ao assunto. Vou enviar o Agente Jeffreys a Seattle por causa de um caso. Ele quer que você seja a sua parceira. Preciso de saber se está disponível para o acompanhar.”
Riley tinha que dizer que não. Ela tinha tanta coisa com que lidar naquele momento na sua vida que assumir um caso numa cidade distante parecia completamente fora de questão. Ainda experimentava ataques ocasionais do SPT de que sofria desde que fora capturada por um criminoso sádico. A sua filha April sofrera às mãos do mesmo homem e agora April tinha que lidar com os seus próprios demónios. E agora Riley tinha uma nova filha que também tinha passado pelos seus próprios terríveis traumas.
Se ela pudesse ficar fora de ação durante algum tempo e dar algumas aulas na Academia, talvez conseguisse estabilizar a sua vida.
“Não posso aceitar,” Disse Riley. “Não agora.”
Virou-se para Bill.
“Tu sabes aquilo com que estou a lidar,” Disse ela.
“Eu sei, só esperava…” Disse Bill com uma expressão implorativa nos olhos.
Chegara o momento de saber o que se estava a passar.
“Que caso é este?” Perguntou Riley.
“Ocorreram pelo menos dois envenenamentos em Seattle,” Disse Meredith. “Parece ser um caso de assassino em série.”
Naquele momento, Riley compreendeu porque é que Bill estava tão abalado. Quando ele era criança, a mãe fora envenenada. Riley não sabia pormenores mas sabia que o seu assassinato fora uma das razões pela qual ele se tornara agente do FBI. Assombrara-o durante anos. Aquele caso abria velhas feridas.
Por isso, quando ele lhe dissera que precisa dela, era porque precisava mesmo dela.
Meredith prosseguiu, “Até ao momento só temos conhecimento de duas vítimas – um homem e uma mulher. Pode ter havido outros e ainda se podem seguir outros.”
“Porque é que nos chamaram?” Perguntou Riley. “Existe um departamento do FBI em Seattle. Eles não podem tratar do assunto?”
Meredith abanou a cabeça.
“A situação por lá é bastante disfuncional. Parece que o FBI local e a polícia local não concordam em nada a respeito deste caso. Por isso somos necessários. Posso contar consigo Agente Paige?”
De repente, a decisão de Riley tornou-se clara. Apesar dos seus problemas pessoais, ela era mesmo necessária neste caso.
“Contem comigo,” Disse por fim.
Bill assentiu e suspirou audivelmente de alívio e gratidão.
“Ótimo,” Disse Meredith. “Voam para Seattle amanhã de manhã.”
Meredith tamborilou os dedos na mesa por um momento.
“Mas não esperem uma receção calorosa,” Acrescentou. “Nem os polícias, nem os agentes federais vão gostar de vos ver.”
CAPÍTULO SEIS
Riley receava o primeiro dia de aulas de Jilly quase tanto como receava alguns casos. A adolescente parecia bastante sombria e Riley interrogava-se se faria uma cena no último momento.
Estará ela preparada para isto? Não parava Riley de se perguntar. Estarei eu preparada para isto?
Para além de tudo, o momento não parecia o mais adequado. Riley estava preocupada por ter de voar para Seattle naquela mesma manhã. Mas o Bill precisava de ajuda e isso para ela era suficiente. Jilly parecera bem quando conversaram sobre o assunto em casa, mas Riley não sabia muito bem o que esperar naquele momento.
Felizmente, não teve que levar Jilly para a escola sozinha. Ryan tinha-se oferecido para as levar e tanto Gabriela como April também estavam presentes para oferecer apoio moral.
Quando todos saíram do carro no parque de estacionamento da escola, April pegou na mão de Jilly e caminhou com ela na direção do edifício. As duas jovens esguias usavam calças de ganga, botas e casacos quentes. No dia anterior Riley fora fazer compras com elas e deixara Jilly escolher um novo casaco, uma colcha, cartazes e algumas almofadas para personalizar o seu quarto.
Riley, Ryan e Gabriela seguiam atrás das raparigas, e Riley enterneceu-se ao observá-las. Depois de anos de taciturnidade e rebelião, April de repente parecia incrivelmente madura. Riley interrogou-se se April não precisara de algo semelhante desde sempre – tomar conta de alguém.
“Olha para elas,” Disse Riley a Ryan. “Estão a criar laços.”
“Maravilhoso, não é?” Disse Ryan. “Parecem mesmo irmãs. Foi isso que te atraiu nela?”
Era uma pergunta interessante. Quando ela trouxe Jilly para casa, Riley fora surpreendida pelas diferenças entre as duas raparigas. Mas agora apercebia-se cada vez mais de parecenças. April era a mais pálida das duas com olhos cor de avelã como a mãe e Jilly tinha olhos castanhos e uma compleição mais morena.
Mas naquele momento em que as duas cabeças de cabelo escuro se moviam juntas, eram muito parecidas.
“Talvez,” Disse Riley, respondendo à pergunta de Ryan. “Não parei para pensar. Só sabia que ela tinha problemas graves e que talvez eu pudesse ajudar.”
“O mais certo é teres-lhe salvado a vida,” Disse Ryan.
Riley sentiu um nó na garganta. Aquela possibilidade não lhe tinha ocorrido e era um pensamento de humildade. Riley sentia-se tanto entusiasmada como assustada por esse novo sentimento de responsabilidade
Toda a família se dirigiu ao gabinete da orientadora escolar. Carinhosa e sorridente como sempre, Wanda Lewis cumprimentou Jilly com um mapa da escola.
“Vou levar-te já para a tua sala,” Disse Wanda.
“Percebe-se que é um bom lugar,” Disse Gabriela a Jilly. “Vais ficar bem aqui.”
Agora Jilly parecia nervosa, mas feliz. Abraçou-os a todos, depois seguiu Wanda pelo corredor.
“Gosto desta escola,” Disse Gabriela a Ryan, Riley e April quando se encaminhavam para o carro.