No caminho, Ramirez sussurrou:
- Que encantadora.
- Faço o que for preciso. – respondeu Avery, também com um sussurro.
O escritório de segurança da Top Real State era uma sala barulhenta, com mais de 20 televisões. O guarda sentou-se à frente de uma mesa preta e um teclado.
- OK - ele disse – Hora e local?
- Doca. Por volta de duas e cinquenta e dois, e depois adiante.
Ramirez balançou a cabeça.
- Nós não vamos encontrar nada.
As câmeras da imobiliária eram muito melhores do que a da tabacaria, além de serem coloridas. A maioria das telas tinha um tamanho parecido, mas uma em particular era maior. O segurança pôs a câmera da doca na tela grande e depois começou a retroceder a imagem.
- Aí – interrompeu Avery. – Pare!
A imagem foi paralisada às duas e cinquenta. A câmera mostrava uma vista panorâmica do estacionamento diretamente da doca, bem como o lado esquerdo, em direção ao sinal de Rua sem Saída e da próxima rua. Havia apenas uma vista parcial do beco em direção à Brattle. Apenas um carro estava parado no estacionamento: uma minivan que parecia ser azul-escura.
- Aquele carro não deveria estar ali – apontou o segurança.
- Você pode consultá-lo? – perguntou Avery.
- Sim, vou fazer isso – disse Ramirez.
Os três seguiram olhando. Por enquanto, o único movimento vinha dos carros na rua perpendicular e das árvores.
Às duas e cinquenta e três, duas pessoas apareceram na tela.
Devia ser um casal apaixonado.
Um era um pequeno homem, magro e baixo, com cabelo grosso, bigode e óculos. A outra era uma garota, mais alta, com cabelos longos. Ela vestia sandálias e um vestido claro de verão. Eles pareciam estar dançando. Ele segurava uma das mãos dela e a girava pela cintura.
- Cacete! – disse Ramirez – é Jenkins!
- Mesmo vestido – disse Avery – Sapato, cabelo.
- Ela estava dopada – ele falou. – Olhe só. Os pés estão se arrastando.
Eles assistiram ao assassino abrir a porta do carona e colocar a garota dentro do carro. Depois, ele caminhou para o lado do motorista, olhou diretamente para a câmera da doca, curvou-se como se estivesse no teatro, e chegou à porta do motorista.
- Merda! – Ramirez berrou. – Esse filho da puta está brincando com a gente!
- Quero todos trabalhando nisso – disse Avery. – Thompson e Jones ficam o tempo todo na vigilância a partir de agora. Thompson pode ficar no parque. Fale para ele sobre a minivan. Isso vai ajudá-lo nas buscas. Nós precisamos saber para que direção esse carro foi. Jones tem uma missão mais difícil. Ele precisa vir até aqui agora e seguir a van pelas imagens. Não quero saber como. Diga a ele para ir atrás de qualquer câmera que possa ajudar ele nisso.
Ela virou-se para Ramirez, que a olhava, chocado.
- Achamos nosso assassino.
CAPÍTULO SETE
O cansaço finalmente chegou para Avery às quinze para as sete da noite, no elevador que subia com direção ao segundo andar da estação de polícia. Toda a energia e ímpeto que havia chegado com as revelações daquela manhã culminaram em um dia produtivo, mas em uma noite de muitas perguntas sem resposta. Sua pele clara estava um pouco queimada pelo sol, seu cabelo bagunçado, a jaqueta que estava usando jogada em seus ombros. Sua camiseta, suja e amassada. Ramirez, por outro lado, parecia estar com mais forças do que pela manhã. Cabelo penteado para trás, roupa quase sem amasso, olhos afiados e apenas uma gota de suor na testa.
- Como você pode parecer tão inteiro? – Ela perguntou.
- São minhas raízes hispano-mexicanas – explicou orgulhoso. – Eu posso trabalhar vinte e quatro, vinte e oito horas e ainda assim manter esse brilho.
Um rápido olhar para Avery e ele lamentou:
- É, você está bem acabada.
Seus olhos se encheram de respeito.
- Mas você conseguiu.
O segundo andar não estava completamente cheio à noite, com a maioria dos oficiais em casa ou trabalhando nas ruas. As luzes da sala de conferências estavam acesas. Dylan Connelly estava lá dentro, obviamente irritado. Quando os viu, ele abriu a porta.
- Onde vocês estavam? – Esbravejou. – Eu disse que queria um relatório às cinco! São quase sete. Vocês desligaram os walkie-talkies. Os dois! – Ele apontou. – Eu poderia esperar isso de você, Black, mas não de você, Ramirez. Ninguém me ligou. Ninguém atendeu as ligações. O capitão também está puto, então não adianta chorar pra ele. Vocês têm ideia do que aconteceu por aqui? Que merda vocês estão pensando?
Ramirez levantou as mãos.
- Nós ligamos - disse – nós deixamos uma mensagem.
- Você ligou vinte minutos atrás – Dylan esbravejou. – Eu estou te ligando a cada meia hora desde as quatro e quarenta. Alguém morreu? Vocês estavam perseguindo o assassino? O Deus Todo Poderoso desceu do céu para ajudar vocês nesse caso? Porque essas são as únicas respostas aceitáveis para essa desobediência flagrante. Eu deveria tirar vocês dois desse caso agora mesmo!
Ele apontou para a sala de conferências.
- Entrem aí.
Ameaças raivosas não funcionavam com Avery. A fúria de Dylan era um barulho distante que ela poderia facilmente ignorar. Ela havia aprendido a fazer isso há muito tempo, ainda em Ohio, quando tinha que escutar seu pai gritando com sua mãe quase todas as noites. Naquele tempo, ela colocava as mãos nas orelhas com força, cantava e sonhava com o dia em que finalmente seria livre. Agora, ela tinha coisa mais importantes para prestar atenção.
O jornal da tarde estava sobre a mesa.
A foto de Avery estava na capa, em uma foto em que parecia que alguém havia apenas empurrado uma câmera em seu rosto. A manchete dizia: “Assassinato no Lederman Park. Advogada defensora de assassinos em série no caso!” Ao lado da foto de página inteira havia uma foto de Howard Randall, o velho e acabado assassino dos pesadelos de Avery com uma garrafa de Coca-Cola e um sorriso no rosto. A manchete sobre sua foto dizia: “Não acredite em ninguém. Advogados ou policiais”.
- Você viu isso? – Perguntou Connelly.
Ele pegou o jornal e virou para a contra capa.
- Você está na capa! Primeiro dia no Esquadrão de Homicídios e você está na capa dos jornais… outra vez. Você consegue ver o quão amador é isso? Não, não - ele disse ao ver a expressão de Ramirez – nem tente falar nada agora. Vocês dois foderam tudo. Eu não sei com quem vocês falaram hoje de manhã, mas vocês começaram uma avalanche! Como é que Harvard ficou sabendo da morte de Cindy Jenkins? Tem uma homenagem pra ela no site da Kappa Kappa Gamma!
- Um chute, quem sabe? – disse Avery.
- Vá se foder, Black! Você está fora do caso. Entendeu?
O capitão O’Malley entrou na sala.
- Espere! – Disse Ramirez. – Você não pode fazer isso. Você não sabe o que nós conseguimos!
- Não me importa o que vocês conseguiram - Dylan esbravejou. - Eu ainda não terminei. Essa merda fica pior. O Prefeito ligou uma hora atrás. Parece que ele costumava jogar golf com o pai da Jenkins, e ele quer saber porque uma ex-advogada de defesa, que livrou um assassino em série da prisão, está cuidando do caso de assassinato da filha de um amigo tão próximo.
- Acalme-se – O’Malley interviu.
Dylan caminhou pela sala, com o rosto vermelho e a boca aberta. Ao sinal do Capitão, que era menor e mais calmo, mas parecia pronto para explodir, ele tentou se acalmar.
- Por alguma razão - O’Malley disse com a voz branda – esse caso saiu do controle. Por isso, eu quero saber o que vocês fizeram o dia todo. Se estiver tudo bem por você, Dylan.
Connelly murmurou qualquer coisa e saiu.
O capitão assentiu para Avery.
- Explique-se.
- Eu não falei o nome da vítima para ninguém – disse Avery. – Mas eu falei com uma garota da Kappa Kappa, a melhor amiga de Cindy Jenkins, Rachel Strauss. Ela deve ter se dado conta. Eu sinto por isso. – Falou com um olhar realmente sentido para Dylan. – Esse tipo de conversa não é meu forte. Eu queria respostas e eu as consegui.