Virou-se ligeiramente e também todas as outras Rileys.
Levantou o braço e as outras também o fizeram.
Depois a sua mão tocou numa superfície de vidro.
Estou cercada de espelhos, Apercebeu-se Riley.
Mas como chegara ali? E como sairia?
Ouviu uma voz chamar…
“Riley!”
Era uma voz de mulher, algo familiar para ela.
“Estou aqui!” Gritou Riley. “Onde estás?”
“Também estou aqui.”
De repente, Riley viu-a.
Estava bem à sua frente, no meio da multidão de reflexos.
Era uma mulher jovem e atraente que usava um vestido fora de moda há várias décadas.
Riley soube de imediato de quem se tratava.
“Mãe!” Disse ela num sussurro espantado.
Ficou surpreendida por ouvir que a sua própria voz agora era a de uma menina.
“O que é que estás aqui a fazer?” Perguntou Riley.
“Vim só dizer adeus,” Disse a mãe com um sorriso.
Riley lutou para compreender o que se estava a passar.
Depois lembrou-se…
A mãe tinha sido morta à frente de Riley na loja de doces quando Riley tinha seis anos.
Mas ali estava a mãe, com o mesmo aspeto que tinha quando Riley a viu pela última vez.
“Onde é que vais mãe?” Perguntou Riley. “Porque é que tens que ir?”
A mãe sorriu e tocou no vidro que estava entre elas.
“Estou em paz agora, graças a ti. Posso prosseguir.”
Aos poucos Riley começou a compreender.
Há pouco tempo Riley encontrara o assassino da mãe.
Tornara-se num velho sem-abrigo a viver debaixo de uma ponte.
Riley deixara-o lá, percebendo que a sua vida fora castigo suficiente para o crime que cometera.
Riley tocou no vidro que a separava da mão da mãe.
“Mas não podes ir mãe,” Disse ela. “Eu sou só uma menina pequenina.”
“Oh não, não és,” Disse a mãe com o rosto radiante. “Olha só para ti.”
Riley olhou para o seu reflexo no espelho ao lado da mãe.
Era verdade.
Riley agora era uma adulta.
Parecia estranho perceber que ela era muito mais velha do que a mãe quando morrera.
Mas Riley também parecia cansada e triste em comparação com a sua mãe mais jovem.
Ela nunca envelhecerá, Pensou Riley.
Tal não se aplicava a Riley.
E ela sabia que o seu mundo estava repleto de julgamentos e desafios ainda para serem vividos.
Alguma vez teria paz para o resto da sua vida?
Deu por si a invejar a alegria pacífica, eterna e intemporal da mãe.
Depois a mãe virou-se e afastou-se, desparecendo nos reflexos infinitos de Riley.
De repente ouviu-se um som terrível e todos os espelhos se estilhaçaram.
Riley estava numa escuridão quase total e com vidros partidos até aos tornozelos.
Ergueu com cuidado os pés, depois tentou sair do meio daqueles destroços.
“Cuidado onde pões os pés,” Disse outra voz familiar.
Riley virou-se e viu um velho enrugado com um rosto duro.
“Pai!” Disse ela.
O pai riu perante a sua surpresa.
“Esperavas que estivesse morto, não é?” Disse ele. “Lamento desapontar-te.”
Riley abriu a boca para o contradizer.
Mas então percebeu que ele tinha razão. Ela não sofrera com a sua morte em outubro.
E era certo que não o queria de volta à sua vida.
No final de contas, raramente dissera uma palavra gentil em toda a sua vida.
“Onde tens estado?” Perguntou Riley.
“Onde sempre estive,” Disse o pai.
A cena começou a mudar de uma vastidão de vidro partido para o exterior da cabana do pai na floresta.
Ela agora estava na porta de entrada.
“Podes precisar da minha ajuda neste caso,” Disse ele. “Parece que o teu assassino é um soldado. Eu si muito sobre soldados. E sei muito sobre matar.”
Era verdade. O pai tinha sido capitão no Vietname. Ela não fazia ideia de quantos homens matara em serviço.
Mas a última coisa que queria era a sua ajuda.
“Chegou o momento de ires,” Disse Riley.
O sorriso do pai transformou-se numa careta.
“Oh não,” Disse ele. “Ainda agora me estou a instalar.”
O seu rosto e corpo mudaram de forma. Numa questão de segundos, era mais jovem, mais forte, de pele escura, mais ameaçador do que anteriormente.
Agora era Shane Hatcher.
A transformação aterrorizou Riley.
O pai sempre tinha sido uma presença cruel na sua vida.
Mas começava a temer Hatcher ainda mais.
Muito mais do que o pai, Hatcher tinha alguma espécie de poder manipulativo sobre ela.
Podia obrigá-la a fazer coisas que nunca imaginara fazer.
“Vá-se embora,” Disse Riley.
“Oh não,” Disse Hatcher. “Nós temos um acordo.”
Riley estremeceu.
Temos um acordo, disso não há dúvida, Pensou.
Hatcher tinha-a ajudado a descobrir o assassino da mãe. Em troca, ela permitira que ele vivesse na velha cabana do pai.
Para além disso, ela sabia que estava em dívida para com ele. Ajudara-a a resolver casos – mas fizera muito mais.
Até salvara a vida da filha e do ex-marido.
Riley abriu a boca para falar, para protestar.
Mas não saíram palavras.
Em vez disso, foi Hatcher quem falou.
“Estamos unidos pelo cérebro, Riley Paige.”
Riley foi acordada por um abanão.
O avião tinha aterrado no Aeroporto Internacional de San Diego.
O sol erguia-se para lá da pista de aterragem.
O piloto falou pelo intercomunicador anunciando a chegada e pedindo desculpas pela aterragem turbulenta.
Os outros passageiros estavam a reunir os seus pertences e preparavam-se para sair.
Quando Riley se levantou e pegou na sua mala, recordou-se do perturbador sonho que tivera.
Riley não era supersticiosa – mas ainda assim não conseguia deixar de pensar…
Seriam o sonho e a aterragem atribulada o presságio de algo?
CAPITULO OITO
A manhã estava luminosa quando Riley entrou no seu carro alugado e saiu do aeroporto. O tempo estava fantástico com uma temperatura a rondar uns confortáveis 20°C. Apercebeu-se de que a maioria das pessoas pensaria de imediato em apreciar a praia ou a piscina.
Mas Riley sentia uma apreensão a insinuar-se.
Pensou melancolicamente se alguma vez conseguiria ir à Califórnia só para desfrutar do tempo – ou ir para outro lugar qualquer para relaxar.
Parecia que o mal esperava por ela para onde quer que fosse.
A história da minha vida, Pensou.
Ela sabia que devia a si própria e à sua família quebrar aquele padrão – descansar e levar as miúdas a algum lado para se divertirem.
Mas quando é que isso ia acontecer?
Soltou um suspiro triste e cansado.
Talvez nunca, Pensou.
Não dormira muito no avião e sentia o jet lag das três horas de diferença entre San Diego e a Virginia.
Ainda assim, estava ansiosa para começar o novo caso.
Ao dirigir-se a norte na autoestrada de San Diego, passou por edifícios modernos embelezados com palmeiras. Passado pouco tempo estava fora da cidade, mas o trânsito na autoestrada de faixas múltiplas não diminuiu. A rápida procissão de veículos rápidos dirigia-se ao sol da manhã agora acentuado pela paisagem íngreme.
Não obstante o cenário, o Sul da Califórnia pareceu-lhe menos pacato do que esperava. Tal como ela, todos os que se encontravam no interior dos carros estava com pressa para ir a algum lugar importante.
Virou numa saída que indicava “Fort Nash Mowat”. Alguns minutos depois, parou à portas da base, mostrou o distintivo e foi-lhe dada permissão para entrar.
Riley já tinha enviado uma mensagem a Bill e Lucy para lhes dar conhecimento de que ia a caminho, por isso estavam à espera do carro. Bill apresentou a mulher sem uniforme que estava na sua companhia como sendo a Coronel Dana Larson, a comandante do gabinete ICE de Fort Mowat.
Riley ficou de imediato impressionada por Larson. Era uma mulher forte e robusta com intensos olhos negros. O seu aperto de mão deu logo a Riley uma sensação de confiança e profissionalismo.
“Prazer em conhecê-la, Agente Paige,” Disse a Coronel Larson numa voz cristalina e vigorosa. “A sua reputação precede-a.”
Os olhos de Riley dilataram-se.
“Estou surpreendida,” Disse ela.
Larson riu-se um pouco.
“Não esteja,” Disse ela. “Também faço parte das forças de segurança e estou a par das ações da UAC. Sentimo-nos honrados por estar aqui em Fort Mowat.”