Javier Salazar Calle - Ndura. Filho Da Selva стр 15.

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Olhando para o rio em busca de algum peixe com aparência comestível, notei umas plantas que cresciam na ribeira. Tinham mais de meio metro de altura, de cor verde ou avermelhada nas folhas mais novas. Estavam cobertas em seu talo por pelos eriçados. Suas folhas eram ovaladas de contorno com as bordas serrilhadas, como pequenos dentes14. O que me chamou a atenção de verdade foi o seu cheiro. Tinha um intenso aroma de menta. Pensei que talvez me pudesse ser útil e colhi um bom punhado de folhas.

A selva não parava de me surpreender. Talvez eu realmente conseguisse sobreviver. Novamente a euforia. Nesse dia decidi seguir como na tarde anterior: paralelo ao leito do rio mas sem andar pela costa. Que me lembrasse, a República do Congo não tinha saída para o mar, de modo que o rio só desembocaria no oceano em outro país, onde não havia rebeldes e eu poderia encontrar ajuda. De todo modo, o método alternativo de me guiar pelo sol não parecia me levar a lado nenhum, já que não fazia a menor ideia de como me orientar.

A manhã se passou tranquila. Andando e descansando; ainda que com uma sensação de cansaço permanente que fazia com que minhas pernas pesassem vinte quilos cada uma. De vez em quando tinha a sensação de estar sendo vigiado, uns olhos fixos permanentemente em minhas costas, mas por mais que olhasse nunca via ninguém, nem sequer algum rastro de vida humana. As meias surpreendentemente haviam secado. Os tênis ainda estavam úmidos, mas pelo menos já não faziam aquele ruído desagradável, ainda que tivessem infectado meus pés com algum tipo de fungo, como se houvesse estado em uma piscina pestilenta. Quando via algum pássaro ou qualquer animal ficava totalmente quieto e observava pra tentar descobrir o que comiam, mas não tive sorte, apenas os vi se moverem de um lado para outro sem aparentarem ter muita fome. Sorte deles.

Em um dado momento algo caiu no meu nariz, passei a mão e observei, parecia água. Olhei para cima e vi como caía uma gota e outra e logo outra, até que em um dado momento as nuvens pareciam estar desabando sobre mim. O céu escureceu quase de repente. Estava chovendo, digo, caindo um dilúvio de um jeito que nunca havia visto antes. Muito longe soavam trovões e, de vez em quando, entrevia o fugaz resplendor de um relâmpago, fulgores que iluminavam ao redor como se fosse um farol. Rapidamente busquei um lugar onde pudesse me refugiar. O único que encontrei foi a possibilidade de ficar debaixo de uma árvore agachado no chão com a mochila sobre as minhas pernas. Vesti o gorro e cobri meu corpo com a manta. Logo, imitando as aves em momentos assim, me dispus a permanecer sem mover nem um dedo para me molhar o mínimo possível, deixando que a água se resvalasse sempre pelos mesmos lugares.

Esteve chovendo sem parar durante muitas horas, tantas que me pareceram dias. Tinha fome mas não me atrevia a me mexer. A água havia encharcado completamente a manta e a camiseta, e já notava filetes caindo por algumas partes de minhas costas. Também caia pelo tronco da árvore passando em algumas partes por baixo de mim. Mais água, mais trovões, mais flashes de luz. Nessas horas em que não movi nem mesmo a cabeça, distraía-me tentando vislumbrar algum pequeno inseto no chão e, quando o encontrava, me entretinha vendo como as gotas caíam em cima dele ou como a correnteza o arrastava. Também localizei um par de minhocas fazendo uma festa, esfregando-se na lama da superfície. E seguia chovendo e trovejando, como se o Deus criador bantu, Bumba, estivesse acumulando forças e soltasse toda sua raiva em um único golpe, sobre minha cabeça, para acabar comigo. Sentia frio e comecei a tremer, os dentes se batiam até mesmo contra minha vontade, de forma incontrolável. Em algumas partes se haviam formado pequenos riachos, que corriam desviando dos obstáculos em direção desconhecida. Atrás de mim ouvia como o rio rugia com mais força do que o normal, supunha que aumentado de volume devido à chuva. A fome apertava cada vez mais meu estômago, e a chuva continuava e continuava. E mais trovões e mais faíscas elétricas produzidas pelas descargas dos combates entre as nuvens. Cada vez estava mais molhado. Isso de ficar quieto devia ter efeito com pequenos chuviscos, mas com tormentas assim somente valia ter um teto e quatro paredes, porque não creio que nem sequer um guarda-chuvas me livrasse de ficar como se tivesse acabado de nadar no rio. Agora já não tinha que me preocupar porque meus tênis estavam molhados, agora só queria saber quando o céu terminaria de se esvaziar sobre minha indefesa cabeça.

Estava desesperado. Comecei a pensar que isto poderia durar por dias ou até semanas. Lembrei-me das monções asiáticas e de seus efeitos devastadores. Não estranhava que houvesse árvores tão altas na selva se eram regadas assim amiúde. Se isso durasse muito mais tempo ia logo parecer um aquário com macacos em lugar de peixes. Curiosamente, com a chuva, se apagaram a maioria dos sons e ruídos habituais. Devia ser que o estrondo da água caindo apagava todos os outros, cujos responsáveis haviam ido para casa se refugiar. Todos menos eu, que estava ali, no meio da tempestade do século sem mal conseguir onde me abrigar, na mais absoluta intempérie. Se continuasse descendo neste ritmo tão rápido a próxima coisa que cavaria seria minha tumba, para poder me sepultar quando morresse de esgotamento físico e mental. Do jeito que estava não me parecia uma opção tão ruim, quase um descanso desejável.

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