Patrizia Barrera - Canções De Natal Na Velha América стр 6.

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- Porque a mamãe não é como todas as outras mães? - perguntou a pequena Barbara, ao olhar nos olhos do pai. Porque ela está sempre na cama de olhos fechados e não brinca comigo? -

A mandíbula de Bob se contraiu e seus olhos se encheram de lágrimas; sentia em seu coração muita dor, mas também muita raiva. Sua vida sempre foi dura desde criança, desde quando sua aparência estranha o fez vítima das piadas e ofensas de seus colegas de escola. Era o patinho feio sem esperança de transformar-se um dia num lindo cisne. Lembrando amargamente os apelidos horríveis que recebeu quando criança, ele decidiu poupar sua doce menina da dor de ser chamada de "órfã". Ele lutaria. Era véspera de Natal, pelo amor de Deus! E sua querida Evelyn estava morrendo. Não havia dinheiro na casa, tudo tinha virado fumaça nos medicamentos desnecessários que não tinham servido para salvar a esposa querida, que tinha conhecido e amado desde os tempos da faculdade. Pensou em sua filhinha, que receberia como presente de Natal apenas a morte de sua mãe, e percebeu que não era o momento de se render.

"Você vai ter o melhor presente de Natal já recebido por uma criança!" - decide em seu coração. Com isso, começa a escrever impulsivamente a história de uma pequena rena com um grande nariz brilhante que, beneficiada pelo Espírito do Natal, iluminaria para sempre as noites escuras de sua infância.

Rudolph nasce assim, pelo amor a uma mulher moribunda e a uma menina muito pequena para suportar a dor da perda. E quando Bob leu a história para a jovem moribunda, ela apertou a filha no peito pela última vez, sorrindo com o pensamento de deixá-la nas mãos da pequena rena


FOTO 9. Não consegui encontrar foto da pobre Evelyn, mas essa de Bob May com sua filha Barbara rodou o país e amoleceu os corações de milhões de mães. Talvez seja esse o segredo da longevidade da fama da pequena rena?

Claramente, embora sugestiva, se trata de uma história romantizada, digna de um escritor do passado. A realidade foi bem diferente e, em muitos aspectos, mais desagradável.

Em 1938, os danos da Grande Depressão eram muito evidentes na sociedade americana: a crise tinha levado a uma redução gradual na alegria de gastar, e o Natal tinha perdido grande parte de seu apelo consumista. Os pais mantinham as carteiras bem fechadas e até as mesas festivas pareciam menos coloridas. A atmosfera era cinzenta e as vendas de brinquedos baixaram drasticamente: por outro lado, mesmo as grandes cadeias de lojas não pareciam propor nada de novo. No ar ecoava as notas das canções de Natal clássicas, e até mesmo as luzes da indústria da música pareciam desligadas. Ou seja, ninguém queria arriscar, e as famílias pareciam estar totalmente adaptadas a uma atmosfera de austeridade.

Mas não as lojas Ward, que tinham na história do seu fundador Aaron Montgomery uma experiência de vanguarda: apesar da depressão e da crise, recrutou o melhor entre os seus copywriters para dar vida a um personagem tão envolvente que podia brigar até mesmo com Mickey Mouse.

A história do fundador da grande cadeia é indicativa. Ward era apenas um caixeiro-viajante e, em 1872, teve uma ideia no mínimo futurista: iniciar um negócio de vendas diretas, produtor-consumidor, apostando em fornecedores e varejistas e baixando drasticamente os preços. O seu primeiro catálogo, que foi enviado por correio às partes interessadas, consistia numa única página e os primeiros artigos eram ferramentas de trabalho muito comuns para os agricultores. Mas a ideia teve sucesso imediato e, depois de apenas dez anos, Ward foi capaz de vender pelo correio através de catálogos 163 itens diferentes para vários usos (incluindo um dos primeiros fogões a lenha baratos) expostos em 237 páginas! Foi ainda Ward, em 1875, quem inventou a fórmula de "garantia de devolução de dinheiro", o que o levou a um salto para a liderança em popularidade entre os consumidores! A rede Ward desfrutou de um monopólio de vendas por correspondência até 1886, quando nasce a Sears (que a leva à falência muitos anos depois). Todavia, em 1919 Montgomery Ward foi listada na bolsa de valores abrindo sua cadeia de lojas, e foi uma das poucas grandes empresas a sobreviver à crise de 29, quando houve o colapso da Bolsa de Valores. Indomável como poucos de seus rivais, em 1938 Ward decidiu investir grande parte de seus recursos no futuro; e fez isso através do público infantil, como era justo que fosse.


FOTO 10. Foto do primeiro catálogo de página única do império em ascensão Montgomery Ward de 1875! Em poucos anos as vendas por correspondência dispararam e Ward teve a brilhante ideia de economizar nos custos de transporte estabelecendo um limite de peso. Parece que os embaladores eram tão rígidos no respeito às regras, que muitas vezes roupas pesadas como os casacos (que eram muito pesados na época) eram descosturados e enviados em dois pacotes diferentes... e vinham com agulha e linha para costurar de volta!

A ideia era "lançar" um personagem engraçado, porém viril, símbolo da própria cadeia. O primeiro "pupilo" da iniciativa foi um certo Touro Fernando proposto não se sabe por quem, que foi descartado de uma vez devido a má publicidade das touradas. O personagem de May disputava com outros, mas foi de longe o favorito devido à sua característica delicada e índole submissa. Ele também estava tragicamente falido, já que a doença súbita de sua esposa Evelyn, que sofria de câncer há mais de dois anos, tinha drenado suas economias já escassas. O incentivo econômico que Ward prometia ao criador do personagem iria colocar as coisas de volta ao eixo. Bob cuidava de Evelyn e de sua filha, movendo-se loucamente entre o hospital, a casa e o escritório. Em consideração a sua situação, foi-lhe permitido trabalhar a maior parte do tempo de casa: foi lá que o artista teve sua inspiração graças à sua filha Barbara (a única nota verdadeiramente poética de todo o caso). A pequena era fã dos contos de fadas de Papai Noel e suas renas; ela adorava filhotes de cervo, se comovia vendo a mãe cerva e se derretia em lágrimas quando pedia ao pai que a levasse ao zoológico... ele, por razões econômicas, não podia. Bob May coloca grande parte de sua alma no coração da pequena rena: inventa um personagem "diferente", alienado, triste e solitário, que não podia ser outro senão ele mesmo, um menino feio e de óculos. E o faz seguindo um padrão poeticamente infantil ditado pelo amor por sua filhinha, e que se encaixa perfeitamente no espírito do Natal.


FOTO 11. Embora muitas vezes comparado a Bambi da Disney, as características originais das renas são muito diferentes dos inocentes filhotes de cervo. Como podem ver na imagem original de 1942, Bambi já apresenta os sinais da iconografia clássica de filhotes adoráveis: cabeça redonda, orelhas grandes e olhos pungentes. A Disney produziu o filme em 1942, quando Rudolph era já muito famoso. Coincidência ou plágio?

Este foi o único grande milagre do nascimento de Rudolph: o resto é apenas uma lenda. Evelyn não morre na véspera de Natal de 1938, como dito muitas vezes. Naquela época, ela estava em coma, hospitalizada em um quarto de hospital muito comum, onde, no entanto, seus entes queridos costumavam visitá-la. Ela morre em julho do ano seguinte, entre uma menina chorando e um copywriter que ainda não tinha encontrado a força para terminar sua história. Ele terá sucesso alguns meses depois em tempo recorde em função do aluguel não pago e do perigo de ser despejado.

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