A
lista
dos
Perfis
Psicológicos
Juan Moisés de la Serna
Traduzido por Susana Franco
Edições Tektime
2019
A lista dos Perfis Psicológicos
Escrito por Juan Moisés de la Serna
Traduzido do espanhol por Susana Franco
1a edición: octubre 2019
© Juan Moisés de la Serna, 2019
© Edições Tektime, 2019
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Prólogo
No início não havia nada, a não ser a luz. Pelo menos isso era o que me tinha dito, e também que isso seria, precisamente, o que veria nos meus últimos momentos. No entanto, aquilo não era o que eu esperava. Sentia-me estranhamente leve, como se todas as preocupações que me andavam a atormentar nestes dias se tivessem desvanecido. Nem sequer a pressa que me fizera acelerar tanto na estrada, tinha agora o mínimo interesse para mim. Sentia-me tranquilo, leve, sem preocupações.
Parecia ver tudo agora com mais clareza e perspetiva. Na verdade, tinha desperdiçado demasiado tempo da minha vida com tanto esforço desnecessário em aparências e para conseguir alcançar mais do que os outros, que agora tudo me parecia tão banal.
Dedicado aos meus pais
Índice
CAPÍTULO 1. O CONVITE
CAPÍTULO 2. ELA
CAPÍTULO 3. NOVA IORQUE
CAPÍTULO 4. A SURPRESA
CAPÍTULO 5. O REGRESSO A MALTA
CAPÍTULO 6. O DIA DO JULGAMENTO
CAPÍTULO 7. ANOS DE JUVENTUDE
CAPÍTULO 1. O CONVITE
No início não havia nada, a não ser a luz. Pelo menos isso era o que me tinha dito, e também que isso seria, precisamente, o que veria nos meus últimos momentos. No entanto, aquilo não era o que eu esperava. Sentia-me estranhamente leve, como se todas as preocupações que me andavam a atormentar nestes dias se tivessem desvanecido. Nem sequer a pressa que me fizera acelerar tanto na estrada, tinha agora o mínimo interesse para mim. Sentia-me tranquilo, leve, sem preocupações. Parecia ver tudo agora com mais clareza e perspetiva. Na verdade, tinha desperdiçado demasiado tempo da minha vida com tanto esforço desnecessário em aparências e para conseguir alcançar mais do que os outros, que agora tudo me parecia tão banal. De repente lembrei-me dos melhores momentos da minha vida, quando estava com os meus pais, na altura em que eu ainda era uma criança; e na minha adolescência, com o meu primeiro amor; e até do meu casamento e dos meus filhos. E, em contrapartida, não havia nem rasto dos meus grandes êxitos pessoais ou pelo menos aqueles que eu considerava como tal, como a minha graduação, o meu primeiro emprego ou as minhas promoções. Também não vi nada do que tinha conseguido alcançar, como a minha casa, o chalé ou o carro. Apenas via episódios cativantes, cheios de amor e ternura, que me reconfortavam e me faziam pensar que aquilo era precisamente tudo o que realmente importava na vida o amor incondicional e não aquilo que alcançamos ou desejamos alcançar.
Muito bem! Está a fazer progressos. Cada vez tem mais consciência do que lhe aconteceu, embora ainda pareça ter algumas falhas.
O doutor acha que falar disto vai-me ajudar a lembrar?
É a única forma que conheço. Quando alguém passa por uma situação como a sua, em que esteve tão próximo da morte, e além do mais, com as consequências que isso lhe deixou, é importante falar disso.
Mas, porque é que não me lembro de mim? Porque é que não sei nada do meu passado, nem sequer da minha pessoa?
Querido, tu tens de focar-te é naquilo de que te lembras, mesmo que sejam momentos após o acidente. Eu podia dar-te alguma informação sobre o relatório dos bombeiros que participaram no teu resgate, mas preferia que fosses tu a lembrar-te disso indicou a mulher que estava sentada ao seu lado.
E se eu nunca chegar a recuperar a memória? Protestou, enquanto se remexia naquele sofá estofado, desgastado pelas horas que ali haviam passado as centenas de pacientes que, anteriormente a ele, se tinham recostado para escutar o doutor. E se não voltar a lembrar-me de quem sou?
Normalmente isto é superável, apenas tem que ter muita paciência e sobretudo confiança na natureza humana, já que, embora nos pareça inacreditável, quase tudo se soluciona por si mesmo, no seu devido tempo.
Já aconteceu? Refiro-me a um caso como o meu que se tenha solucionado.
Não com as mesmas características afirmou o psiquiatra enquanto acabava de fazer algumas anotações no caderno que utilizava para registar a sessão.
Então como pode ter tanta certeza de que irei recuperar a memória? Insistiu o paciente enquanto se endireitava, ao escutar o tom melodioso do relógio, assinalando o fim da sessão.
Não se desespere, tudo a seu tempo. Por agora seria bom que se focasse nesses sentimentos que me descreveu, que de certa forma são muito positivos. Tomara que tivesse sido assim tão positivo antes. Disse o psiquiatra com um leve sorriso, enquanto colocava a esferográfica, que usava para escrever naquele caderno, atrás da orelha esquerda.
Bem, farei o que me diz, já que, na verdade, é a única esperança que tenho de saber quem sou comentou enquanto se levantava e se dirigia ao psiquiatra para se despedir.
Então, continuaremos a nossa conversa na próxima semana ele disse enquanto apertava a sua mão e o conduzia à porta, dando-lhe uma leve pancadinha nas costas.
Abrindo a porta, despediu-se deles com um pequeno gesto de mão, observando-os enquanto abandonavam o seu consultório. Já com a porta fechada, esperou que se tivessem passado alguns segundos e expirou vigorosamente.
Que difícil que é para alguns deles!, pensou para si enquanto regressava à sua secretária, onde o aguardava um sofá confortável, ricamente decorado com estampados floridos e um acabamento em madeira de mogno, que lhe dava um certo ar de dignidade, tal e qual como ele havia desejado quando o adquiriu naquele leilão de caridade.
Presumia-se que tinha pertencido a alguém da alta sociedade, a um desses nobres de Solera talvez, nada mais, nada menos do que a um visconde ou algo assim parecido mas sem certezas disso, o que poderia afirmar era que quando se deixava cair sobre a sua almofada macia e depositava os seus cotovelos sobre os braços do sofá, sentia-se bastante importante.