Kyou reapareceu de frente para a mesma parede de tijolos onde ele tinha recostado a menina. Vendo que ela não estava mais lá, seus olhos sangraram carmim e um grunhido enraivecido atravessou o beco vazio, ecoando nas ruas circundantes.
*****
Suki e Shinbe encontraram Kotaro na porta da boate. Agarrando Shinbe pelo ombro, Kotaro perguntou urgentemente.
â Kyoko ainda está lá dentro? â Seus sentidos sobrenaturais haviam entrado em pico e seus instintos lhe diziam que ela não estava perto.
Suki avançou para agarrar a camisa de Kotaro e confirmar suas suspeitas.
â Um homem a levou cerca de dez minutos atrás, você tem que encontrá-la! â Seus olhos se encheram de lágrimas quando ela falou com ele. â Não conseguimos encontrá-la em lugar nenhum!
Sem estar pronto para soltar a Suki ainda, Shinbe pegou sua mão, colocando-a no peito. Ele a envolveu em seus braços como uma tira de aço. Olhando para Kotaro, ele acrescentou:
â Alguma "coisa" acabou de levá-la daqui.
Shinbe olhou para a forma agora trêmula de Suki e tentou acalmá-la. Ela nunca permitiu que ele fizesse o que ele queria sem discutir.
â Vamos encontrá-la. Prometo. â Com a promessa feita, ele se virou para falar com Kotaro mais uma vez, mas o segurança já havia desaparecido.
â Aaa... aonde é que ele foi? â gaguejou Shinbe olhando ao redor, mas não encontrando nenhum vestÃgio do guarda de segurança. Balançando a cabeça, ele suspirou. Já tinha visto muita coisa estranha por uma noite.
Saindo de seu estado perdido e sem esperança, Suki resmungou aborrecida.
â Acho bom ele encontrar a Kyoko, senão vou fazer macarrão de Kotaro pro jantar. â Arrastando Shinbe atrás dela como se tivessem mudado de papel de repente, ela acrescentou:
â Meu carro, agora, vamos!
Shinbe olhou ao redor do estacionamento como se de repente lembrasse de algo importante.
â Falando em carros... o do Toya sumiu.
CapÃtulo 6
Hyakuhei colocou o jovem que ele escolheu para se tornar um de seus filhos em um quarto escuro acima dos sons da boate. Tirando o cabelo castanho e macio de seus olhos fechados, ele ainda podia sentir cheiro da garota que emanava da pele do menino.
- Tasuki - ele tinha ouvido os outros chamá-lo.
- Bem, Tasuki, quando você acordar, terá um presente muito precioso de mim: o dom da vida eterna. Ele deu um sorriso solidário, como se estivesse falando com uma criança. - Mas terá que entender que sua vida é minha.
Os olhos de Hyakuhei se tornaram vermelhos quando sentiu que um de seus filhos o chamava. Ele não gostava de ser perturbado enquanto aguardava um despertar, mas um dos seus favoritos havia chamado por ele. Sabendo que o subordinado nunca o chamaria, a menos que fosse importante, ele respondeu seu pedido.
Olhando mais uma vez para o garoto que ele havia transformado, Hyakuhei tremeluziu e desapareceu, deixando Tasuki sozinho dentro dos limites do quarto trancado.
*****
Yohji podia sentir as pontadas de dor forçando-o à consciência. Nossa, tudo nele doÃa! Ele lembrou lentamente o que aconteceu e por que se sentia tão mal agora. Ele tinha encontrado Kyoko e decidiu brincar com ela, quando este estúpido guarda de segurança havia aparecido.
Como alguém poderia ser tão forte? Quando tentou lutar, não teve a mÃnima chance. Era como se ele tivesse tentado ir contra uma matilha de lobos famintos e agora estava sofrendo duramente pelo esforço.
Finalmente, ousando abrir os olhos, Yohji ficou surpreso ao encontrar um jovem garoto parado lá, observando-o. Ele parecia ter cerca de 12 anos e poderia ser considerado albino, se seus olhos não fossem tão pretos e vazios.
AtraÃdo pelo cheiro de sangue fresco, Yuuhi apareceu ao lado do menino ferido. Observando-o de perto, ele ficou imóvel como uma estátua, tocando-o brevemente com sua aura, antes de assentir uma vez. O menino tinha a mácula do mal já dentro dele, mas havia um perfume de pureza que se apegava à sua energia negativa.
Aqueles restos de energia pura pareciam estar vivos com um poder que não morreria.
- Inesperado...
Quando os olhos do menino machucado se abriram, Yuuhi sussurrou suavemente:
-Pai, ele tocou a menina pura, a energia dela ainda persiste, atacando a dele. - As presas da criança brilharam na escuridão com um sorriso fingido. - Devemos ficar com ele?
Os olhos de Yohji se estreitaram com as estranhas palavras do menino e, em seguida, olharam em volta para quem a criança estava se dirigindo, apenas para ver um homem vestido de preto sair das sombras para a fraca luz do beco. Ele era alto e o poder emitido de sua forma era como se ele fosse uma divindade vingadora.
Os olhos aterrorizados de Yohji se arregalaram, fixando-se nos olhos vermelhos cor de sangue e, desta vez, ele definitivamente viu presas. Ele pressionou seu corpo dolorido contra a parede. Ele nunca teria chance se ele tentasse correr no estado em que ele já estava.
Hyakuhei olhou para o jovem que havia assediado a garota que ele agora considerava sua. Este menino tinha ousado tocá-la e agora pagaria por sua insolência. Ele inalou e sentiu os restos do lobo que já tinha batido no menino gravemente e seus olhos de meia-noite entrecerraram-se em fendas.
- Kotaro esteve aqui! Como ele se atreve a interferir nisto? Seria ele a razão pela qual a menina tinha desaparecido de repente sem deixar vestÃgios? â resmungou Hyakuhei ao pensar que o licantropo esteve tão perto do Cristal do Coração Guardião e da garota mais uma vez. Só porque a menina o escolheu não a fazia realmente pertencer a ele. Nunca havia sido a decisão dela. Será que ele não aprendeu a lição no passado?
Ele pensou que havia matado a vil criatura junto com Toya há anos por ousar ficar contra ele e tentar proteger a garota de sua posse.
- Não importa -, os pensamentos de Hyakuhei ficaram melancólicos por um momento - você já lançou Toya e a sacerdotisa contra mim, Kotaro, e veja o que você me fez fazer.
Uma sombra de piedade cruzou seus olhos assombrados enquanto pensava no passado. Se Toya não tivesse tentado se tornar um guardião da sacerdotisa e afastar Kyou dele, Toya não estaria no mundo inferior agora, mas aqui, ao seu lado, junto com o belo Kyou. O único culpado por encher Toya de mentiras equivocadas foi Kotaro.
Kotaro também foi o único que havia avisado a sacerdotisa de sua verdadeira intenção. Era estranho como o tempo poderia deformar até mesmo as mentiras que foram ditas.
- Então, Kotaro - sussurrou ele - você a encontrou novamente.
Ele foi trazido de volta ao presente pelo gemido que veio do menino agachado contra a parede. Ele precisaria de mais de um novo recruta para encontrar sua sacerdotisa desaparecida se Kotaro também estivesse com ela. Hyakuhei a queria e a teria.
Ele pretendia reivindicá-la com a ajuda deste imbecil que pensou em contaminá-la. A corrupção de tal criatura servia para ele apenas. Ele tinha muitos planos para sua sacerdotisa, afinal, mil anos era muito tempo para formular novas formas de torturar alguém.
Voltando para as sombras, seus olhos brilharam enquanto ele assentiu ligeiramente com Yuuhi.
- Faça com que doa bastante. Torture a carne dele, mas não o mate. - Ele queria que esse menino sofresse um pouco mais por suas ações para que ele entendesse nunca desafiar seu novo mestre e nunca mais tocar na garota.