Era a Missão de San Fernando, um dos santuários estabelecidos no século XVIII pelo Padre Junípero Serra que veio a ser chamado El Camino Real. Como uma Igreja Católica, ela representava uma das poucas organizações ainda em funcionamento no mundo de hoje. A missão agia como um ponto de distribuição de alimentos, provavelmente alimentando os indigentes como parte de seu trabalho de caridade. Isso era o que tinha levado o enxame de pessoas pobres a mover-se até o parque do outro lado da rua.
Peter tinha sentimentos mistos sobre as igrejas. Não sendo ele religioso, costumava desconfiar delas. É verdade que elas estavam fazendo um trabalho bom agora, fornecendo não apenas cuidados materiaiscomo a distribuição de comidamas também cuidando das necessidades espirituais das pessoas e mantendo o moral alto. Como a situação ficou progressivamente pior, as pessoas apelavam cada vez mais à religião como fonte de conforto. Isso foi bom até certo ponto, mas Peter não podia deixar de recordar como a igreja medieval tinha crescido em um monólito entorpecido, incentivando a superstição e esmagando implacavelmente toda individualidade. Se for para a Humanidade crescer novamente, a liberdade de pensamento seria uma necessidade absoluta. Peter tinha medo que as igrejas estivessem trazendo um alívio de curto prazo e uma opressão de longo prazo.
Peter parou fora da missão e desceu da bicicleta. Esta era sua melhor perspectiva para passar a noite. Ele poderia se alimentar na missão e depois passar a noite sentado contra a parede. As noites podem ser geladas em Los Angeles, mas normalmente não eram insuportavelmente frias. Um dos seus poucos pertencesalém do dinheiro, que nem sempre era útilera o cobertor enfiado na sua mochila. Isto seria suficiente para mantê-lo aquecido esta noite.
Começou a empurrar sua bicicleta para a missão quando notou algo acontecendo em uma rua a oeste da parede do edifício. Um homem negro com uma moto estava sendo incomodado por um bando de jovens brancos.
Eu acho que ele é de Pacoima, um dos baderneiros estava dizendo. Vindo aqui para nos espiar, descobrir quais são nossos pontos fracos. Provavelmente ele e seus amigos querem fazer uma pilhagem de gasolina esta noite. E então, brilhoso, onde conseguiu a motoca?
O negro era jovem, alto e angular; em dias mais felizes, poderia ter sido um jogador de basquete. Ele vestia uma camisa regata vermelha, calça azul e uma bandana também vermelha na testa. O seu rosto era adornado com um nítido cavanhaque e bigode pretos e era coberto por uma juba curta de cabelos encaracolados. Expressava um olhar digno e ardente. Toque nessa moto, disse ele, e eu vou esculpir o Gettysburg Address3 em seu traseiro branco. A sua voz era tão tranquila, quase inaudível, mas ainda tinha um sentimento de força nela.
O bando ficou surpreendido por um instante, e então começaram a rir nervosamente. Eram nove contra um. Quem você pensa que é, nego, vindo aqui e dando ordens?, perguntou o líder, movendo um passo mais perto. O resto do bando fez o mesmo.
Em um movimento rápido, o negro foi a seu bolso das calças, puxou um canivete e abriu a lâmina. A sua mão movia em um pequeno círculo na frente dele, dando a aparência de que a lâmina estava flutuando sozinha. Não são ordens, disse ele. apenas bons conselhos.
Os baderneiros pararam novamente. As coisas estavam ficando quentes e eles estavam incertos sobre o que fazer. O líder estava na pior situaçãoele não queria amarelar na frente de seus companheiros. Assim, após olhar o canivete por um momento, ele calmamente foi a seu cinto e puxou sua própria arma, uma baioneta do exército montada numa haste de madeira. "Se você quer brincar, nós podemos lhe fazer companhia, não é pessoal?" Inspirados pelo seu comportamento, os outros pegaram suas facas.
Peter olhou ao redor. Ninguém no parque estava em uma posição para ver o que estava acontecendo. Se estavam, ignoravam muito bem. Sentiu uma sensação de embrulho em seu estômago e o cuspe em sua boca azedou. Verificou que a sua própria faca estava solta na sua bainha, para o caso de ser necessário.
O bando foi circulando sua presa, mas com menos confiança do que poderia sentir idealmente. A prospectiva vítima não era um impotente forasteiro assustado por seu bullying, mas um homem de aparência poderosa com uma faca afiada e um aparente conhecimento de como usá-la. A gangue avançou com cautela.
O negro ficou parado no lugar, rodando lentamente para manter um olho nas pessoas por trás dele bem como àquelas em frente. A sua faca preparada e apontada diretamente para a garganta do líder.
Com um berro alto, semelhante a um touro, o líder foi para cima. O negro evadiu com facilidade e rapidamente moveu seu punho naquilo que parecia um movimento sem muito esforçoainda assim, quando o líder se endireitou novamente, Peter pôde ver que um profundo corte tinha trespassado sua orelha esquerda, que sangrava profusamente. Próximo, disse o negro, rindo.
Três outros atacaram a partir de direções diferentes. Um recebeu um chute rápido na virilha que o fez dobrar-se de dor; o segundo encontrou apenas o ar quando a vítima já havia se deslocado para causar um golpe na mão do terceiro. Vamos lá, gritou o líder da gangue de um canto mais afastado. O que somos? Um bando de frangotes? Peguem ele!
Todos eles convergiram de uma só vez, embora mostrando um grande respeito pelas proezas da sua vítima. O negro tinha um maior alcance do que a maioria deles e foi capaz de mantê-los momentaneamente à distância com seus cortes, mas ele não podia durar para sempre contra os seus números superiores.
Peter não era um bom lutador, embora tivesse mais do que a sua quota de prática ao longo do último ano. Ele geralmente evitava brigas se pudesse, mas esta foi uma que ele não podia ignorar se quisesse viver com a sua consciência limpa. Sacando a sua faca e emitindo um grito alto, ele correu para frente.
A gangue foi surpreendida por este ataque a partir de um novo sentido e travou por um momento, dando Peter uma vantagem que precisava muito. Ele incapacitou um dos inimigos com uma punhalada rápida na lateral, sob as costelas. Virando para o próximo homem, golpeou na altura da face, cortando um pouco acima da sobrancelha. Sangue vazou do corte para dentro do olho, cegando o sujeito e fazendo com que ele pensasse que seu olho tivesse sido vazado. O baderneiro caiu no chão, aos gritos.
O negro não hesitou como seus atacantes. A sua faca estava ocupada cortando seus adversários, fazendo-os lutar defensivamente. Mas agora eles tinham se recuperado da surpresa do ataque de Peter e lançaram uma contraofensiva própria. Peter encontrou-se enfrentando dois tipos grandes ameaçadores com homicídio em seus olhos. Sem o elemento de surpresa do seu lado, os dois baderneiros eram sem dúvida os melhores combatentes. Peter afastou-se deles lentamente até que descobriu que a suas costas estavam contra a parede da missão. Os outros dois continuavam se aproximando dele, sorrisos maldosos em suas faces.
O que estava à sua esquerda arremeteu-se contra ele. Peter tentou girar para longe, mas não foi rápido o suficientea faca do atacante cortou a parte superior do seu braço esquerdo, enviando uma onda de dor através de seu corpo. O sangue brotou, colorindo sua já encardida camisa, mas teve pouco tempo para se preocupar com issolutava por sua vida.
Seu giro o colocou em uma má posição, porque agora tinha o seu lado esquerdo para fora e o seu lado direitojuntamente com a sua facacontra a parede. Peter teve que se abaixar rapidamente quando o segundo invasor, vendo a abertura, fez um golpe perigoso em direção a sua cabeça. A lâmina assoviou apenas um quarto de polegada sobre seu cabelo.