— Teríamos que trabalhar em segredo. — disse ele, lançando um olhar para ela. — Só à noite e tal.
Ellie puxou a ponta do rabo de cavalo e deu um olhar incrédulo.
— Como se eu fosse gostar de ser flagrada dando as mãos ao inimigo.
— Palavras das mais verdadeiras. — ele concordou, erguendo o copo de gim, ela ergueu o dela para tilintar contra o dele. — Então está combinado.
— Ellie Whitfield. — uma voz explodiu do outro lado do bar. — O que está fazendo deste lado da rua?
Um sujeito rude como uma lixa, sem alguns dentes, se aproximou com uma carranca e caneca em mãos, e algo nada agradável queimando em seus olhos. Os ombros de Bernard enrijeceram, as velhas disciplinas prontas para sua convocação.
— Maldição do cacete. — Ellie xingou, os pés alcançando o chão com um baque. — Fique alerta, Taylor. Estamos cara a cara com um dos homens mais covardes que terá a chance de conhecer na vida.
Ela bateu o copo vazio de gim na mesa e se levantou. A mão escorregou para o lado, de prontidão nas facas. Bernard seguiu a deixa, levando a mão à pistola.
Ellie gritou:
— Não tem mais ninguém para tornar miserável esta noite, James?
Ele se aproximou, alguns homens, que o seguiram pela porta, atrás dele. Com base nas expressões enfadonhas, e no balanço de seus grandes membros, o conhecido dela trouxe agressores com ele.
Ellie franziu os lábios e piscou na direção de Bernard.
— Sempre pode fugir agora se ficou assustado. Prometo conter meu escárnio.
Um sorriso apareceu nos lábios dele, um movimento de que ele se esquecera de que conseguia fazer. Ele balançou a cabeça e sacou a pistola.
— E perder este entretenimento desenfreado? Creio que não.
Capítulo Três
James Donovan era um rato-de-esgoto traidor da mais alta ordem. Ellie o vira pela última vez no trabalho que deveriam fazer juntos na casa de algum cavalheiro rico no extremo oposto da cidade. Ao menor sinal de problema, ele a abandonou junto do outro sujeito com quem trabalharam, e chorou bicas quando ele não recebeu sua parte. Em vez de culpar os dois, James decidiu colocar o peso apenas nos ombros dela.
E, claro, ele a encontrou agora. Tudo que Ellie queria era beber um pouco de gim e ficar um pouco alegre, secar-se após a fascinante noite que teve, fugindo dos policiais. No entanto, não importa o quão longe ela viajou por esta cidade apodrecida, o problema estava a um paralelepípedo de distância.
Bernard Taylor saltou da cadeira ao lado dela, uma prontidão na postura sugerindo que ele viu seu quinhão de brigas. Não que o colete e as calças fizessem muito para esconder sua figura musculosa, que ela notou poucos minutos depois que ele engatilhou a arma carregada na têmpora dela. O homem parecia mais um arruaceiro do que um detetive.
— Ellie, aonde pensa que vai? — James perguntou, os lacaios clamando ao lado dele. O ridículo cruzou os braços e formou uma carranca de bom tamanho, como se a pose pudesse fazê-la tremer nas botas. — Creio que me deva um pouco mais do que uma bebida. — o tom sugestivo da voz dele a fez querer vomitar.
— Eu bem sei o que merece, Donovan, e não é nada agradável. — disse Ellie, dando alguns passos para diminuir a distância entre eles.
Os fregueses do bar que não eram nada estúpidos pararam para olhar entre os dois, ninguém ousou se envolver. O aperto de Ellie aumentou em torno das facas. Ela não deixou de notar como James baixou as mãos. Com certeza, o desgraçado puxaria uma pistola.
Ellie captou o lampejo de cobre de trás das costas dele. Não era uma pistola, nem uma lâmina.
Ah, não.
Ela encontrou os olhos de Bernard.
— Quando eu disser, precisamos correr.
Porque James Donovan era um covarde idiota que havia levado uma bomba a um bar cheio de pessoas inocentes. O estilhaço da bomba destruiria a maior parte da multidão ali dentro. Donovan se aproximou, os companheiros o flanqueando atrás dele para bloquear a fuga deles.
Sem saída, a não ser para cima.
— Corra. — Ellie gritou enquanto mergulhava para a esquerda, em direção ao bar.
Um guincho rápido, e ela subiu no balcão para começar a correr pela superfície. Gritos seguiram seu rastro enquanto ela pulava por cima das canecas de cerveja e copos de uísque amarelado chacoalhando ao seu redor. Ela arriscou um único olhar para trás.
Bernard não a seguiu por cima do bar. Em vez disso, o homem endireitou os ombros largos, baixou a testa e atacou.
Com a atenção de Donovan voltada para ela, ele não percebeu Bernard correndo até que fosse tarde demais.
Ellie pulou mais uma cerveja, os passos batendo nas vigas da taverna. Alguns bêbados tentaram golpear os tornozelos dela, mas ela sempre foi mais leve do que uma mulher comum.
O fim do bar apareceu à vista, a poucos metros de distância. A essa altura, mais gritos estouraram, os sons ásperos ecoando atrás dela.
Ellie não parou no final do bar, ela se lançou para fora da margem. Seus pés bateram no chão de madeira. Ela se virou a tempo de localizar cada sujeito por quem passou correndo, olhando em sua direção.
Novos amigos, por toda parte.
O velho grisalho nos fundos do bar se lançou sobre ela, os dedos quebradiços tentando se apoiar. Ela se esquivou com facilidade, muito menos embriagada do que a maioria dos clientes daqui.
Bernard se esquivou de James Donovan, mas os outros dois meliantes tentaram interferir na trajetória dele. Ellie trouxe seu olhar para o lado direito quando ele atacou com velocidade mortal. Bernard atirou o punho sob a mandíbula de um homem e, um instante depois, ele girou sobre os calcanhares, erguendo o cotovelo para cumprimentar o nariz do outro homem. Bernard Taylor possuía profundezas ocultas, para dizer o mínimo.
— Pare. — James gritou, levantando a bola de cobre na mão, um dispositivo do tamanho de um punho. — Ou esse bar inteiro vai abaixo com você.
Ele jogaria. Ela sabia que ele o faria.
— Rapazes, querem queimar junto do bar? — Ellie gritou para a multidão. — Se não, sugiro parar o idiota com a bomba. Ou o param, ou correm.
Bernard irrompeu entre os capangas e disparou na direção dela. Ellie estava mudando de um pé para o outro. Assim que ele a alcançou, ela voou.
Vários sujeitos no bar pularam de seus banquinhos, que caíram no chão. Alguns dos outros seguiram a recomendação de abordar James. Infelizmente para muitos deles, Donovan balançou o braço e a bola de cobre voou de suas mãos.
Ellie seguiu para a saída, ciente da morte garantida sendo arremessada em sua direção.
Bernard a ultrapassou com as longas pernas, mas para surpresa dela, ele estendeu a mão para trás e a agarrou pela mão, arrastando-a para frente com ele. A bomba girava na direção deles, pronta para bater nas tábuas do chão, passou pelas mesas e o bar, bem perto da entrada para a qual estavam correndo.
As panturrilhas de Ellie se contraíram com intensidade quando ela se lançou para a porta, segurando a mão de Bernard com força. O ombro dela acertou o batente da porta enquanto ela se arremessava.
Um clique deliberado ecoou em algum lugar do bar
Ellie caiu nas pedras do lado de fora, os joelhos batendo na pedra lascada. Bernard largou a mão dela e se jogou no chão.
Um zumbido encheu o ar, cada vez mais alto.
Tique, tique, tique… pop.
A rajada de calor saiu primeiro pela porta aberta, seguida pelo estrondo que sacudiu as madeiras do prédio antigo.
Os gritos vieram em seguida. Gemidos horrorizados, uma raiva alta e ensurdecedora, uivos roucos que fizeram a pele dele arrepiar. Ellie tapou os ouvidos com as mãos, tentando bloquear os sons. Ela fechou os olhos com força e respirou fundo. A culpa a assolava como carne viva, mas já fazia um bom tempo que dilacerava sua pele até os ossos.
Ela se levantou em meio à fumaça metálica que saía da porta aberta. Rajadas de fumaça preta e oleosa escapavam e, com base na contração de seu nariz, focos de incêndio surgiram lá dentro. Ninguém havia pedido àquele canalha que trouxesse uma bomba para o interior do estabelecimento, embora ela não conseguisse se livrar do puxão persistente em seus calcanhares que causava problemas aonde quer que fosse. Não como se ela algum dia fosse uma boa filha.